ESTADÃO - 09/09
O Planalto torce, ou reza, para que a ministra Cármen Lúcia aproveite o seu discurso de posse na presidência do Supremo Tribunal Federal, segunda-feira, para dar alguma sinalização contrária ao aumento dos salários dela própria e de seus dez colegas na mais alta corte. Tida e havida como austera, poderia dizer, por exemplo, que não é hora de aumentar salários já altos, e pagos por toda a sociedade brasileira, enquanto 12 milhões de desempregados estão na rua da amargura.
E por que contar com Cármen Lúcia? Porque o Planalto acha que se esperar pelo atual presidente do Supremo, Ricardo Lewandowski, e pelo presidente do Senado, Renan Calheiros, está perdido. Ou melhor, estamos perdidos todos os que sustentamos o setor público, porque o salário dos ministros da corte é o teto do funcionalismo e tem efeito cascata em todos os três poderes e em todos os Estados.
Aliás, outros aliados do Planalto na guerra contra essa nova farra salarial, além de Cármen Lúcia, são os governadores, que têm grande influência sobre suas bancadas e estão aflitos diante de uma pressão de mais R$ 4 milhões ao ano caso o aumento dos ministros do Supremo passe e arraste para cima os salários dos servidores estaduais.
Os Estados já estão na pindaíba, depois de anos de uma visão estatizante que inflou dramaticamente a folha de pagamentos. Hoje, Rio e Rio Grande do Sul, por exemplo, têm multidões de funcionários, mas não têm como pagá-los. E ainda convivem com categorias querendo mais. Lindo, não é? Alguns governadores lamentam: “Não governamos de fato, viramos gestores de folhas de pagamento”.
Bem, Cármen Lúcia e Renan se encontraram ontem, mas juram que ninguém falou e ninguém ouviu nada sobre salários. A ministra foi apenas convidar o senador para sua posse e acha que até lá, ou seja, nestes três dias, quem cuida disso é Lewandowski – que, dizem, anda doido para deixar esse presentão para todo o funcionalismo, à custa das contas públicas.
Quanto a Renan: ao reservar para o último ato do impeachment o fatiamento da Constituição para manter os direitos políticos de Dilma, ele mandou um recado para o PT e para o Planalto do correligionário Michel Temer: “Eu posso ser um aliado muito útil (como foi para o PT), ou posso fazer muito mal (como fez ao governo)”.
O novo “mal” que Renan poderia fazer, depois de viajar à China com Temer, seria permitir ou, pior, estimular o aumento do STF. E era exatamente o que ele parecia fazer ontem, dizendo que incluiria a urgência do projeto na pauta e, na sequência, poria em votação o próprio projeto. E ainda sugeria separar os subsídios dos ministros do STF das demais carreiras para diminuir o estrago. Só no fim do dia recuou e retirou o texto. Estaria ele se divertindo com coisa séria? A dívida da União é de R$ 4,3 trilhões, com desembolso de R$ 500 bilhões neste ano. É preciso cortar, não aumentar gastos.
“Fora Temer” 1. O Planalto comemorou a reunião de três horas entre cinco ministros e representantes do MST, na segunda-feira, e decidiu: o “Fora Temer” e o enfrentamento político ficam por conta dos partidos; o governo se concentra na pauta, quando pauta houver.
“Fora Temer” 2. Na versão palaciana, os protestos contra o presidente numa arquibancada do 7 de Setembro em Brasília partiram de 120 convidados da USP. O convite à universidade é tradicional, mas o governo mudou, esqueceu de atualizar a lista de convites e instalou o inimigo ao lado da tribuna de honra – onde estavam Temer e Marcela.
“Fora Cunha”. De um expoente governista, sobre as chances de Eduardo Cunha na segunda-feira: “Se tiver quórum, ninguém sai vivo daquele plenário”. Adeus, querido!
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