VALOR ECONÔMICO - 02/09
André Guilherme Vieira
SÃO PAULO - (Atualizada às 20h19) O ex-diretor de Serviços da Petrobras indicado ao cargo pelo PT, Renato Duque, afirmou à Operação Lava-Jato ter participado pessoalmente de reuniões para discutir a suposta divisão de propinas envolvendo contratos da estatal com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e com o presidente do Instituto Lula, Paulo Okamotto.
Os encontros teriam ocorrido na sede do instituto, em São Paulo, de acordo com a versão apresentada pelo ex-diretor. As informações foram apuradas pelo Valor PRO, serviço de informações em tempo real do Valor. Segundo Duque, as reuniões eram periódicas e nelas se discutia a questão do financiamento do PT com recursos originados em desvios da petrolífera.
O ex-diretor da Petrobras está muito próximo de fechar acordo de delação premiada com o Ministério Público Federal (MPF) em Curitiba. Ele afirmou dispor de meios para provar que as reuniões aconteceram. Duque também se comprometeu a indicar elementos de prova sobre supostas irregularidades que afirma ter discutido com Lula e Okamotto nos encontros.
O ex-chefe da área de Serviços e Engenharia da Petrobras já prestou informações escritas aos investigadores por meio de anexos elaborados por seus advogados. O material é considerado relevante. Outros anexos de informações serão entregues aos procuradores da força-tarefa a partir do dia 8 de setembro.
Se o MPF aceitar a delação de Duque, ele começará a depor como colaborador em data a ser definida pelos procuradores da República. Neste caso, as oitivas deverão ocorrer na sede da Polícia Federal (PF) em Curitiba, onde o ex-executivo deverá ser mantido para prestar os depoimentos em delação premiada.
Negociação
Condenado em primeira instância a mais de 51 anos de prisão e cumprindo execução provisória de três sentenças no Complexo Médico Penal em Pinhais (PR), Duque levou mais de um ano para aceitar as condições previstas em lei para tornar-se colaborador. O ex-diretor era considerado arrogante e de temperamento explosivo.
A negociação para o acordo do ex-diretor, alçado à Petrobras em 2003, durante o primeiro ano de governo de Lula, contou com dezenas de revezes e incidentes que quase o inviabilizaram.
O Valor também apurou que Duque fez um relato sobre o que chamou de "verticalização" das ordens de comando na Petrobras. Segundo ele, as decisões tomadas pela estatal - que deveriam obedecer a critérios técnicos - eram ordenadas com viés politico.
Na pré-delação premiada o ex-diretor também apontou o ex-presidente da Petrobras José Sergio Gabrielli como participante do suposto esquema de corrupção nas diretorias da petrolífera.
A posição de Duque como diretor de Serviços conferia a ele acesso a todos os contratos firmados pela estatal, mesmo em outras diretorias estratégicas, como a de Internacional e a de Abastecimento. Segundo a Lava-Jato, elas eram cotas políticas do PMDB e do PP, respectivamente. A área de Serviços era loteada pelo PT, de acordo com as investigações.
Tanto a defesa de Lula como a de Gabrieli têm negado qualquer envolvimento com ilícitos ocorridos na Petrobras. Até a publicação desta nota, a reportagem ainda não tinha conseguido contato com os advogados de ambos.
Outro lado
Por meio da assessoria, o Instituto Lula afirmou que não comentará sobre “supostas delações”. “Reiteramos que o ex-presidente Lula não cometeu ilícitos e não comentaremos delações negociadas com procuradores para a obtenção de benefícios judiciais. A delação em si não tem valor de prova.”
Nenhum comentário:
Postar um comentário