O GLOBO - 24/09
Depois de ter acumulado o maior endividamento corporativo do planeta, a estatal começa a avançar no necessário ajuste, sem as culpas ideológicas do lulopetismo
Um dos mais patéticos e até irônicos resultados dos 13 anos de lulopetismo foi o grupo político que se arvorava em ícone da moralidade ter promovido um escândalo de corrupção com repercussão mundial. O outro foi o escândalo ter sido armado dentro da Petrobras, empresa-símbolo do nacionalismo, de que o lulopetismo jurava defender dos “entreguistas”. Na prática, quebraram a empresa. Ela só não pediu recuperação judicial por ser do Estado. E obrigaram-na a fazer duro ajuste, com a venda de ativos. Entenda-se: os estatistas do PT são os responsáveis pela maior privatização feita dentro do grupo Petrobras. Esta é para os livros de História.
Pessoa adequada para tratar da reconstrução da empresa, Pedro Parente — responsável, na era FH, pelo programa de emergência de instalação de termelétricas numa séria crise de energia — apresentou, nesta semana, como presidente da estatal, o Plano de Negócios da empresa para o período de 2017 a 2021.
Aldemir Bendine, último presidente da Petrobras no governo Dilma, já fora obrigado a fazer cortes em investimentos. Diante da realidade da maior dívida corporativa do planeta — chegou a meio trilhão de reais —, não havia mesmo saída a não ser cortar. E vender.
Com Pedro Parente, os investimentos orçados em US$ 74,1 bilhões, para este Plano de Negócios, representam uma redução de 25% comparados com os do período anterior, de 2015 a 2019. Não existe alternativa.
Sem o lulopetismo, o plano de venda de subsidiárias e participações prosseguirá sem culpas ideológicas. Por exemplo, ontem foi anunciado o acordo com um consórcio canadense, sob a liderança da Brookfield, para a venda de 90% da subsidiária Nova Transportadora Sudeste, por aproximadamente US$ 5,2 bilhões.
É preciso reduzir de forma drástica o endividamento. De uma relação entre dívida líquida e geração de caixa de 5,3 vezes no ano passado, a meta é chegar a 2,5 em 2018. Por isso, além da redução de custos operacionais, o novo plano de negócios prevê uma receita de US$ 19,5 bilhões em vendas de ativos e atração de novos sócios.
Um ponto fundamental é a política de preços que seguirá a empresa. Pedro Parente diz que acabou o tempo de interferência do Planalto no assunto. O último caso desastroso neste campo foi o congelamento de preços imposto pelo Planalto em 2014, para ajudar a reeleição de Dilma.
Esta liberdade para a empresa é essencial na atração de sócios e de grupos que desejem adquirir subsidiárias. Ninguém investirá se temer que sua margem de rentabilidade cairá devido a uma eleição. Chegou o momento de atrelar de fato os preços internos de combustíveis ao mercado internacional, e de forma transparente.
Há, ainda, a necessidade de o Congresso ajudar no soerguimento da empresa, com a mudança das regras estatistas e ilusórias de exploração do pré-sal. Enquanto a Petrobras for obrigado por lei a ser monopolista na operação nesta área, sem dinheiro para isso, não haverá novas licitações. E sem alterações nos índices irreais de nacionalização de equipamentos usados nos investimentos em exploração, pouco se avançará. A ressurreição da Petrobras é uma operação multidisciplinar.
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