ESTADÃO - 24/09
O grande problema do prefeito Fernando Haddad é que os fatos são teimosos e contra eles, como reza o velho dito, não há argumentos. E nada demonstra isso melhor do que o seu pífio desempenho justamente no setor escolhido por ele como uma das vitrinas da sua administração, apresentada, com despudorada megalomania, como uma das melhores de São Paulo – o transporte urbano. Uma pesquisa que mostra as agruras dos paulistanos em seus deslocamentos diários desmancha impiedosamente essa fantasia.
Segundo a Pesquisa Sobre Mobilidade Urbana, feita pelo Ibope por encomenda da Rede Nossa São Paulo, aumentou 20 minutos, entre 2015 e este ano, o tempo médio gasto diariamente pelo paulistano para fazer a totalidade de seus deslocamentos – de 2h38 para 2h58. Em 2013, esse tempo era de 2h15. Foram considerados deslocamentos como ida e volta do trabalho, de hospitais, de academias e da escola, para buscar e deixar os filhos.
Aumento semelhante foi registrado no tempo médio dos deslocamentos para a atividade principal, trabalho ou estudo, que pulou de 1h44 em 2015 para 2h01 neste ano, sendo este o tempo maior registrado desde 2009. Outro dado chocante sobre o sofrimento diário dos paulistanos: por ano, eles passam, em média, o equivalente a um mês e meio parados no trânsito.
Esse é o resultado melancólico da “revolução” na mobilidade urbana prometida por Haddad e que ele ainda tem o desplante de continuar alardeando para angariar votos. Uma jogada desesperada que, como atestam as pesquisas de opinião, não está funcionando, porque os fatos são implacáveis. E quem mais sofre com eles são os moradores da periferia, como observa o especialista em transporte Sérgio Ejzenberg. Segundo ele, cresceu o número de pessoas que gastam mais de 3 ou 4 horas para ir e voltar do trabalho.
O depoimento colhido pela reportagem do Estado de uma moradora da zona norte, que trabalha em um restaurante no centro e gasta mais de três horas na ida e volta do trabalho, ilustra bem o terrível cotidiano dos paulistanos: “Acordo às 5h30 e só retorno para casa por volta das 20 horas. É cansativo porque faço o trajeto de ida e volta em pé e nos horários de pico. Quando volto para casa, não dá disposição para fazer nada”.
A piora dessa situação – que já era ruim – no atual governo é o presente que a demagogia de Haddad, secundado pelo seu secretário de Transportes, Jilmar Tatto, deixa principalmente para as camadas mais carentes da população que moram longe do local de trabalho e são obrigadas a utilizar o serviço de ônibus para seus deslocamentos. É esse serviço, de responsabilidade da Prefeitura, o principal responsável pela morosidade do transporte público na capital. Apesar de suas deficiências, como a superlotação, o sistema metroferroviário é muito mais rápido.
Enquanto Haddad e Tatto se entregavam à mais desenfreada demagogia, alardeando que davam prioridade ao transporte coletivo em detrimento dos carros, transformados em vilões, as medidas por eles adotadas para melhorar a mobilidade levavam ao resultado que agora se vê. Os mais de 400 km de faixas exclusivas para ônibus, à direita das vias, que eles não se cansam de elogiar, nem de longe produziram os benefícios prometidos, como atesta o aumento do tempo dos deslocamentos na atual administração municipal.
O mesmo se pode dizer do impacto das ciclovias – que somarão 400 km até dezembro – no sistema de transporte. A maioria delas continua entregue às moscas. Improvisadas, elas deram preferência aos bairros centrais, de maior visibilidade, embora na periferia é que sejam de fato necessárias.
A única obra prometida que realmente poderia ajudar a melhorar a mobilidade, a construção de 150 km de corredores de ônibus, não passou de um terço. Dava trabalho, custava mais caro e, por isso, precisava de empenho e determinação que parecem não fazer o gênero do prefeito.
Não surpreende que sua “revolução” na mobilidade tenha dado no que deu.
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