ESTADÃO - 06/09
O início do governo efetivo de Michel Temer está mais tumultuado do que já se previa, com pressões vindas do exterior, dos movimentos aliados ao PT, de analistas políticos e até de Aécio Neves, presidente do principal partido da sua base aliada, o PSDB. No Planalto, porém, o discurso (pelo menos de boca para fora) é de tranquilidade. Tudo isso já estava “precificado”, dizem eles, recorrendo a uma expressão de economistas. Ou seja, estavam na conta. Mas e o PMDB?
“Se o governo acertar na economia, tudo isso passa”, disse o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM), que ontem substituía Temer durante sua viagem à China. “Esses protestos são normais, já eram esperados. O fundamental é tomar as medidas certas e tirar o País da crise”, faz eco o secretário de Infraestrutura, Moreira Franco. Para o Planalto, milhares de pessoas em São Paulo é um contingente razoável, mas não chega a 10% dos que iam às ruas antes do impeachment.
Uma reclamação é que até pequenas coisas viram grandes debates. O salto do sapato de Temer quebrou e ele comprou um par novo na China. E daí? Na reunião do G-20, Temer foi posicionado no canto esquerdo, quase caindo da foto, com ar desconfortável. É grave?
Mas, se palacianos tentam tratar com naturalidade (ou naturalidade forçada) o “fora, Temer”, principalmente em São Paulo, Rio, Curitiba, Porto Alegre e Salvador, a energia do governo parece focada no ajuste e nas reformas. E os maiores problemas no Congresso não partem da oposição, mas dos próprios aliados. A tarefa número um de Temer, ao descer hoje do avião em Brasília, deve ser uma conversinha séria com o seu partido, o PMDB, que nunca tinha assumido de fato a Presidência e ainda não conseguiu assimilar a nova posição.
Sempre ficará uma ponta de dúvida, porque a verdade dos políticos balança ao sabor das conveniências, mas dez entre dez dos principais ministros, assessores e amigos de Temer juram que Renan não comunicou a ele o tal fatiamento da Constituição e do julgamento de Dilma. Se for realmente assim, foi uma deslealdade. Dá para confiar nele?
O mandato de Renan na presidência do Senado só vai até fevereiro, sem direito à reeleição. Serão cinco meses, com eleição municipal e recesso de fim de ano no meio. Logo, o que se pergunta é: 1) o que dá tempo de fazer até lá e 2) quem assumirá depois o seu lugar. Apesar de se considerar Eunício Oliveira (PMDB-CE) como favas contadas na presidência, há dois senões: Eunício, aliado de Renan, enfrenta problemas de saúde; e uma parte do PMDB articula o nome de Garibaldi Alves (RN).
O fato é que o País, Temer e os 12 milhões de desempregados têm pressa, mas o ano parlamentar está, na prática, acabando. Temer precisa rapidamente mostrar força política e uma base aliada coesa. Mas Renan e parte do PMDB não chegam a ser tão confiáveis assim e, vira e mexe, lá está o tucano Aécio advertindo que, se Temer não fizer as reformas, babau apoio. Num momento como esse, com tantos flancos para o governo que se instala, não é exatamente um gesto camarada, solidário.
Ontem, Aécio almoçou com Geraldo Alckmin e jantou com Rodrigo Maia. Será que suas cobranças recorrentes se resumem a mera busca de protagonismo? O pessoal de Temer acha que sim, mas bem pode ser um “hedge”, para a eventualidade de o governo naufragar. Só tem um problema: se naufragar, não se salva um, nem PMDB, nem PSDB, nem DEM, nem PPS... E o PT não volta à tona. O insucesso de Temer seria o insucesso geral. A dúvida é o que, e quem, lucraria com isso. Se é que alguém lucraria.
Velhinhos. Depois dos desvios do crédito consignado, confirma-se agora o assalto aos fundos de pensão dos funcionários da Petrobrás, CEF, BB e Correios, efeito direto do aparelhamento do PT. E ainda rechaçam a reforma da Previdência!
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