A maior ameaça ao bom desempenho de Temer seria postergar as reformas em busca de popularidade, de olho na reeleição
O julgamento do impeachment da presidente afastada ocorrerá finalmente entre 29 de agosto e 2 de setembro. É compreensível que toda a articulação política do presidente interino esteja no momento mobilizada para assegurar o seu mandato, e não para encaminhar reformas que pudessem rachar sua base de sustentação. Apenas quando garantido seu mandato, seria então disparada a incontornável agenda de reformas. Seriam examinados pelo Congresso a reforma política, o teto de gastos públicos, os ajustes na Previdência Social e na legislação trabalhista.
Há entre os governistas quem defenda que se espere ainda as eleições de outubro antes de deflagrar o ciclo das reformas, evitando perder votos pela adoção de medidas impopulares. “Perdido” agosto com a finalização do ritual de impeachment, “perde-se” também setembro em busca de expressivas vitórias eleitorais contra partidários de um populismo que arrasou financeiramente o país. Seriam postergados nessa estratégia eleitoral os ajustes na Previdência Social e na legislação trabalhista. Já o anúncio de uma reforma política para estancar a roubalheira a céu aberto e um pacto federativo norteando a proposta de teto dos gastos públicos seriam extremamente populares. Menos dinheiro na engrenagem estatal de administração centralizada e mais dinheiro para saúde, segurança, saneamento e educação. Pois o dinheiro tem de ir para onde o povo está, nos municípios, onde haverá eleições, e não para Brasília.
O pacto federativo conduziria a reforma administrativa do Estado, com férreos controles sobre o governo central e gradual descentralização de recursos fiscais. Essa descentralização das políticas públicas coloca um eixo republicano na busca de sustentação parlamentar e na própria gestão dos recursos públicos. É preciso desmontar a engrenagem de administração centralizada, que alimenta piratas privados e políticos corruptos. Mesmo as reformas da legislação trabalhista e do sistema previdenciário poderiam ser construtivamente abordadas nas eleições. Pois a rigidez nas negociações salariais e os encargos excessivos estão na raiz do desemprego em massa. A maior ameaça ao bom desempenho de Temer na Presidência seria postergar as necessárias reformas em busca de popularidade, de olho na reeleição.
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