ESTADÃO - 24/08
O veto ao financiamento por parte de pessoas jurídicas é a pedra de toque das eleições municipais de outubro, uma dura e inédita prova para os meios e modos adotados por partidos e candidatos nas campanhas ao longo das últimas décadas e um “test-drive” para as disputas eleitorais daqui em diante.
No sentido figurado, a expressão “pedra de toque” refere-se à maneira de se avaliar ou aferir alguma coisa. No sentido literal significa o uso de um elemento mineral (rocha escura) para qualificar a pureza dos metais. Misturados os conceitos, chegamos ao nosso tema de interesse: a depuração da metodologia político-eleitoral a partir de modificações pontuais na legislação, ainda que não se tenha feito a celebrada reforma política.
A principal e determinante mudança foi a proibição de doações das empresas, habitualmente responsáveis pela quase totalidade do financiamento de campanhas, que se tornaram milionárias e dependentes do marketing, referidas na forma em detrimento do conteúdo. Isso vai mudar. Não por vontade dos candidatos e dos partidos, mas por imposição das circunstâncias.
Levantamento do Estadão Dados mostra que as três maiores legendas do País (PT, PMDB e PSDB) receberão R$ 1 bilhão entre os anos de 2009 e 2012, o equivalente a dois terços, em média, dos respectivos partidos. Em 2011, o Tribunal Superior Eleitoral concluiu que no ano anterior foram feitas doações ilegais da ordem de R$ 214 milhões. Só o PT doou mais de R$ 10 milhões a partidos nanicos. Os gastos totais em campanhas no ano de 2014 chegaram a quase R$ 5 bilhões.
Tempos que não voltam mais, a não ser que depois da temporada restrita os partidos se organizem no Congresso para mudar a regra. Hoje, sem dinheiro para gastar com maquiagens e artificialismos, os políticos serão obrigados a investir no conteúdo para conquistar votos. O eleitorado, por sua vez, será instado a trocar a posição de espectador passivo das realidades postiças para agente ativo para do mundo real, ciente do valor de voto.
Em geral, nossa tendência é relegar a importância de eleições municipais, notadamente frente às disputas nacionais, muito mais importantes. Ocorre que esta agora de 2016 terá regras inéditas, obrigando partidos e candidatos a esperar para ver como, quando e de que maneira virão as mudanças.
Perdas sentidas. Neste malfadado mês de agosto, o País perdeu três grandes jornalistas: Luiz Antônio Novaes (o Mineiro), Beth Orsini e Geneton Moraes Neto, todos impedidos pelo destino de prosseguir quando ainda tinham muito a contribuir: Mineiro aos 56, Beth aos 68 e Geneton aos 60 anos de idade. Fui amiga do primeiro, muito próxima da segunda, acompanhei à distância o terceiro e admirei com entusiasmo reverencial os três, cada qual na sua área.
Talvez o prezado leitor e a cara leitora não saibam a dimensão da perda. Foi enorme e por ela rendo graças ao Poder Superior (na forma como cada um o entenda) e suplico para que os trate bem na vida em que serão eternos a fim de que seus entes queridos se pacifiquem nas respectivas dores.
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