Temer deve resistir à síndrome de ilegitimidade apregoada por seus oponentes e evitar a busca de uma ilusória popularidade
O primeiro e mais elementar ensinamento a respeito do processo inflacionário é de Milton Friedman: “A inflação é sempre, em qualquer lugar, um fenômeno monetário.” Essa lição trivial explica a diferença entre o fracasso do Cruzado e o sucesso do Real. O Cruzado deixou a moeda frouxa, pois considerava a inflação fenômeno “inercial”. O congelamento de preços e salários acabaria com reajustes automáticos de um “conflito distributivo”. Já o Plano Real foi “monetarista” até a medula. Além de desarmar reajustes automáticos ao introduzir uma nova moeda (a URV como unidade de conta), garantiu seu poder de compra com juros astronômicos (o real como reserva de valor). A lição fundamental: fique de olho no Banco Central. O regime de metas de inflação é uma institucionalização desse princípio básico.
O segundo e um pouco mais elaborado ensinamento é de Thomas Sargent e Neil Wallace: “É essencial que haja coordenação entre as políticas monetária e fiscal. Para conduzir um bem-sucedido programa anti-inflacionário, o Banco Central precisa de apoio da política fiscal.” Por que nunca antes em qualquer lugar do mundo houve um programa de combate à inflação que durasse décadas como no Brasil? Porque faltou a dimensão fiscal, o princípio básico de Sargent e Wallace. A Lei de Responsabilidade Fiscal e a geração de superávits primários a partir do segundo mandato de FHC sugeriam um grau de coordenação que se perdeu inteiramente ao longo dos mandatos de Dilma.
O terceiro e mais complexo ensinamento é de Robert Lucas: “A racionalidade do processo de formação de expectativas a partir dos fundamentos macroeconômicos sugere que as pessoas esperam taxas elevadas de inflação no futuro por boas razões. Expectativas adversas se alimentam exatamente de inadequadas trajetórias das políticas fiscal e monetária adotadas pelo governo.” A boa notícia é que essa mesma racionalidade permite uma queda fulminante e permanente da inflação, com pequena taxa de sacrifício em perdas de produção e emprego, pelo colapso das expectativas inflacionárias ante mudanças drásticas dos regimes fiscal e monetário. Mas, para isso, é preciso vontade política. Temer deve resistir à síndrome de ilegitimidade apregoada por seus oponentes e evitar a busca de uma ilusória popularidade.
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