terça-feira, julho 12, 2016

De Joaquim a Henrique - RICARDO BALTHAZAR

FOLHA DE SP - 12/07

SÃO PAULO - Quando Joaquim Levy assumiu a chefia do Ministério da Fazenda, um ano e meio atrás, parecia a pessoa certa para a missão. Sem nenhum compromisso com os erros cometidos pelos petistas no primeiro mandato de Dilma Rousseff, ele era respeitado na praça e sabia o que fazer para arrumar as contas públicas e criar condições para que o país voltasse a crescer.

Deu errado, como se sabe. Levy segurou as despesas do governo e passou os dias esmurrando pontas de faca na tentativa de convencer a presidente e seus colaboradores da necessidade de apertar os cintos. Desajeitado na política, ele ficou sozinho em Brasília e perdeu credibilidade quando todo mundo percebeu que Dilma não tinha a convicção necessária para seguir a sua cartilha.

Levy também subestimou o tamanho do problema. Com a economia em recessão, as receitas do Tesouro caíram mais do que ele previra, e o rombo nas contas públicas cresceu. Mas seu erro crucial foi de natureza política. Ele achava que os petistas não tinham outra saída além da aposta no seu programa. Em novembro, antes de completar um ano no cargo, Levy estava fora do governo.

A chegada de Henrique Meirelles ao Ministério da Fazenda alimentou esperanças parecidas. Ele montou uma equipe qualificada e logo anunciou providências para frear os gastos do governo. Meirelles conta com o respeito dos investidores e goza da confiança do presidente interino, Michel Temer, que depende dele como Dilma dependia de Joaquim Levy.

Não se sabe se Temer cumprirá suas promessas de austeridade, mas o mercado exibe boa vontade com ele, porque aposta na sua capacidade de articulação política. Na semana passada, enquanto Meirelles brigava para estabelecer em 2017 uma meta fiscal mais rigorosa do que a deste ano, o principal articulador do presidente interino, o ministro Eliseu Padilha, puxava para outro lado. Ele se retraiu no fim, mas deixou claro que Meirelles não joga sozinho.


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