O governo comemora o otimismo cauteloso que tomou conta da conversa pública na última semana. As pesquisas publicadas por Datafolha, Fundo Monetário Internacional e Confederação Nacional do Comércio sinalizam uma melhoria da expectativa econômica futura, embora a crise continue onde está.
O governo surfou na onda da nova tendência: numa bateria de entrevistas durante os últimos dias, Temer e os novos presidentes de Petrobras, BNDES, Banco Central e Câmara dos Deputados alinharam-se com disciplina a uma mensagem uníssona, digna de manual de estratégia de comunicação.
Caso esse clima prevaleça nos próximos meses, quais as implicações para as relações exteriores do Brasil?
Há três elementos para levar em conta.
Primeiro, a melhoria da situação em casa sem dúvida facilitará o duro trabalho de restauração da posição do país no mundo. Sexta-feira passada, por exemplo, o Planejamento liberou meio bilhão de reais, o que permitirá ao Itamaraty voltar ao campo de batalha. O novo plano de expansão do comércio exterior agora vai ter os instrumentos para integrar as várias burocracias do Estado brasileiro.
Segundo, não obstante a mudança de expectativas dentro do país, a melhoria em nossa situação lá fora está longe de ser automática. Em tempos recentes o Brasil queimou pontes, perdeu credibilidade e deixou um passivo diplomático que vai da África ao Oriente Médio, dos Estados Unidos à América do Sul.
Reverter esse quadro demandará trabalho diplomático cuidadoso, bem calculado e sustentado no tempo. Acima de tudo, será necessário montar uma agenda diplomática positiva. Dinheiro novo para fazer política externa e algum ativismo comercial são fundamentais, sem dúvida, mas por si sós não resolvem o problema.
O desafio é grande porque não será fácil emplacar uma agenda positiva neste momento. O dia a dia da diplomacia dos próximos meses será dominado por problemas de difícil resolução: os entraves do Mercosul, a guinada protecionista da Europa, o drama com a Bolívia e a tensão com a Venezuela. Na área comercial há fricções sem fim e, de quebra, o Brasil será obrigado a optar entre duas candidaturas latino-americanas e uma portuguesa à sucessão do secretário-geral das Nações Unidas.
Terceiro, vale lembrar que o uso de agendas diplomáticas positivas é um instrumento eficaz na consolidação da autoridade de qualquer governo brasileiro, Lula e FHC que o digam. Nisso, Temer conta hoje com uma oportunidade: segundo o Datafolha, nos últimos seis anos houve uma queda de mais de 20 pontos percentuais na proporção de cidadãos que dizem sentir "mais orgulho do que vergonha de ser brasileiro". É terreno vasto para conquistar.
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