O Estado de S. Paulo - 01/07
O governo vai precisar da confiança de empresários e consumidores para conduzir o País de volta ao crescimento e, ao mesmo tempo, para iniciar a execução de uma ambiciosa pauta de reformas. Precisará também de apoio político, especialmente no Congresso, e cada passo importante poderá exigir negociações. Sinais de confiança começam a aparecer, mesmo num quadro de muita incerteza, e reforçam o capital político do presidente em exercício Michel Temer. Mas ele e sua equipe devem cuidar desse capital, para no mínimo preservá-lo até a conclusão do processo de impeachment. Se o governo provisório se tornar permanente, terá mais força para decidir e negociar. O perigo, até lá, será ceder muito facilmente e exagerar nas bondades. Se cometer esse erro, decepcionará quem hoje aposta em sua vocação para mudar, será mais vulnerável a pressões e terá dificuldades muito maiores para eliminar os grandes desajustes.
O País “começa a andar” e há indícios de aumento da confiança de consumidores e de empresários, disse na quarta-feira, em São Paulo, o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles. Sondagens divulgadas nos últimos dias confirmam a melhora – ainda incipiente, mas sensível – das expectativas. Indicadores do comércio e do setor de serviços publicados pela Fundação Getúlio Vargas (FGV) mostram aumento da confiança em relação aos próximos seis meses. No caso do comércio, o índice de confiança atingiu o maior nível desde maio do ano passado. Além disso, a elevação da média móvel trimestral, de 2,2 pontos, foi a maior desde março de 2010. Embora seja cedo para falar de otimismo, sondagens do setor industrial têm apontado sinais mais favoráveis no cenário de negócios.
Ao analisar os últimos números da atividade industrial paulista, o empresário Paulo Francini, diretor da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), confirmou essa nova percepção. Antes do crescimento vem a estabilidade e, antes desta, a redução da queda, comentou, logo acrescentando: “Nós estamos nesta fase”. Em maio, o indicador de nível de atividade da Fiesp foi 1% menor que em abril, na série sem efeitos sazonais. No ano, o nível médio foi 10,1% mais baixo que nos primeiros cinco meses de 2015. Apesar dos números ainda muito negativos, o índice de expectativas, o Sensor Fiesp, situou-se em junho no mais alto nível desde setembro do ano passado.
O mesmo tom tem aparecido em comunicados de importantes segmentos da indústria. Em maio, 469 postos de trabalho foram fechados nas fábricas de produtos eletroeletrônicos. Foi a 16.ª queda consecutiva do nível de emprego, mas a notícia foi divulgada pela associação das empresas do setor, a Abinee, com um toque positivo: “O resultado, o menor desde fevereiro de 2015, indica uma diminuição no ritmo das demissões”. Em março deste ano, segundo a nota, 2.856 pessoas haviam sido demitidas.
Enquanto o humor começa a melhorar lentamente na frente empresarial, o governo tenta avançar pelo caminho da menor resistência no dia a dia da política. O pacote de bondades do presidente em exercício já chegou a R$ 125 bilhões em gastos e renúncias fiscais, segundo o Estado. A lista de benefícios é variada. Inclui reajustes salariais para o funcionalismo, aumento de 12,5% para o Bolsa Família, renegociação das dívidas de Estados com o Tesouro Nacional, ajuda ao Rio de Janeiro para a segurança nos Jogos Olímpicos, além de outros itens.
Algumas bondades são justificáveis pelo menos parcialmente. É o caso da renegociação com os Estados. O acordo inclui uma limitação do aumento dos gastos estaduais, um detalhe positivo para as contas públicas. O aumento da folha salarial é bem mais discutível, especialmente numa fase péssima para os trabalhadores do setor privado. Além do mais, de modo geral as bondades complicam o conserto das contas públicas. Hoje o governo tem a seu favor a expectativa dos empresários. Se continuar distribuindo bondades, poderá desperdiçar também esse capital político adiantado como crédito pelo setor privado.
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