terça-feira, junho 14, 2016

Atentado terrorista em Orlando une as esquerdas e a extrema-direita - KIM KATAGUIRI

FOLHA DE SP - 14/06

No meu artigo anterior, afirmei que as esquerdas não têm pudor em utilizar o sofrimento humano como arma política. O atentado deste domingo (12), que resultou em 49 mortos e 53 feridos, mostrou que o oportunismo dessa gente, de fato, não tem limites. Mais: evidenciou que esse tipo de canalhice se estende a boçais de extrema-direita. Criou-se uma falsa polaridade: "Foi por causa do radicalismo islâmico ou da homofobia".

O presidente Barack Obama aproveitou o episódio para fazer proselitismo contra o porte de armas: "O massacre nos lembra como é fácil pôr as mãos numa arma que permite a eles atirar em pessoas em escolas, cinemas e clubes noturnos. (...) E nós temos de decidir se esse é o tipo de país em que queremos estar. E não fazer nada é também uma decisão."

O discurso do presidente americano faz parecer que quem é contra sua proposta de proibir armas é um monstro que defende que as pessoas tenham o direito de matar umas às outras em "escolas, cinemas e clubes noturnos". Afinal, "não fazer nada" é "uma decisão", e, para Obama, essa decisão é o mesmo que defender assassinos.

É claro que a esquerda brasileira não poderia ficar para trás. O senador Lindbergh Farias (PT-RJ), que nunca perde uma oportunidade de mostrar quão canalha é seu pensamento, deu a entender que a culpa é da ascensão de Donald Trump, pré-candidato do Partido Republicano à Presidência dos Estados Unidos, que teria um "discurso à la Bolsonaro".

Antes de praticar o atentado, o terrorista ligou para o número de emergência e disse que agiria em nome do Estado Islâmico (EI), que, posteriormente, assumiu a autoria do ataque. Apesar de a responsabilidade do crime ser óbvia, figuras como Lindbergh preferiram ignorar as evidências para defender a ideia pronta da homofobia, o que merece o prêmio de malabarismo argumentativo do ano: afinal, é preciso reforçar um polo para enfraquecer o outro, em que se encontra a resposta mais evidente: foi terror islâmico.

Boçais do espectro ideológico oposto também apontam seus dedos para os adversários políticos, corroborando esse falso embate. Donald Trump, um populista de extrema-direita, utilizou a tragédia para pedir a renúncia de Barack Obama e defender o banimento de todos os muçulmanos dos Estados Unidos.

A narrativa que as esquerdas querem que predomine –com a contribuição da ignorância da extrema-direita– é a de que o atentado é culpa única e exclusivamente da homofobia, que, segundo sua lógica, é uma das mazelas da civilização ocidental. Para elas, dizer o evidente, ou seja, que a responsabilidade é do islamismo radical, é uma mera demonstração de xenofobia.

O fato é que não há dilema nem polaridade: o radicalismo islâmico é homofóbico. Mas as esquerdas não podem admitir isso, caso contrário, estariam abrindo mão de uma de suas "minorias".

Não foi uma "cultura da homofobia" que matou as 49 pessoas em Orlando. Foi um terrorista que seguia os valores do Estado Islâmico. Existe homofobia no Ocidente? Figuras como Trump diriam que não. A verdade é que existe, sim, mas ela mais cerceia direitos do que mata, e é preciso que se conheça o mal que se combate para que se indique o remédio correto.


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