CORREIO BRAZILIENSE - 26/03
Eu ia começar a escrever este texto quando o som ecoou lá fora: "Prova de amor maior não há do que doar a vida a um irmão..." Pois é. Dou-me conta que é plena Sexta-feira da Paixão, quando cristãos do mundo inteiro relembram o dia em que Jesus Cristo foi crucificado e morto. Tantos séculos depois do calvário, é triste constatar que a humanidade ainda não aprendeu a lição maior: a de que devemos amar uns aos outros. No Brasil, por exemplo, vivemos dias de exacerbação de ânimos e de incentivo ao ódio contra o próximo.
Nas redes sociais, então, vive-se num mundo paralelo. Conflagrado. Território sem lei em que predomina espécie de vale-tudo. Uma idade das trevas dos tempos virtuais pós-modernos. Um second life reloaded, onde integrantes de patrulhas ideológicas, boa parte paga com dinheiro roubado para fazer esse serviço sujo, comportam-se como fascistas na perseguição aos que pensam diferente, jogam gasolina na fogueira e tentam reduzir o país a dois tipos de debiloides: os petralhas e os coxinhas. Não haveria vida inteligente fora disso.
Na política real, também falta grandeza. Um gesto de grandeza. De reconhecimento de que foi perpetrado estelionato eleitoral sem precedentes no país. No lugar da ética que Lula e o PT prometiam instituir na política, o que se viu, após a conquista do poder, foi o aprofundamento dos esquemas de corrupção. Primeiro com o mensalão. Depois com o petrolão. Seguidos das cenas vexaminosas de tesoureiros e caciques do partido presos, após a descoberta de bilionário esquema de desvio de dinheiro público sem paralelo na história brasileira.
Falta humildade à atual elite política para dizer ao povo que errou, renunciar ao governo e propor um pacto para garantir que a Lava-Jato vá até o fim nas investigações, livre de qualquer interferência política. Que tudo seja investigado e puna-se quem tiver de ser punido. À direita, à esquerda, ao centro.
Em qualquer país civilizado, um governo envolvido num gigantesco escândalo de corrupção como esse já teria caído. Se não caiu até agora é certamente porque o subdesenvolvimento ético e moral ainda resiste no Brasil. Com a Lava-Jato, se as investigações não forem logo enterradas mais adiante, o país pode dar um passo à frente. Principalmente com uma reforma política que garanta aos cidadãos mais poderes e mecanismos de controle sobre os eleitos. Um mandato, hoje, no Brasil, é como um cheque em branco daqueles que Lula um dia disse que daria a Roberto Jefferson, o homem que implodiu o mensalão e acabou implodido pelo próprio escândalo.
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