Gazeta do Povo - PR - 28/01
No mesmo dia em que um relatório da Transparência Internacional mostra o Brasil em 76.º lugar no ranking de percepção da corrupção, a Operação Lava Jato deflagrou sua 22.ª fase, cumprindo seis mandados de prisão temporária, dois de condução coercitiva e 15 de busca e apreensão. Esta nova etapa da operação vai fechando o cerco sobre o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e deve causar mais desconforto ao PT.
A força-tarefa da Lava Jato suspeita que apartamentos de luxo podem ter sido repassados como forma de pagamento de propina, por meio de manobras financeiras e comerciais envolvendo a empreiteira OAS, a cooperativa Bancoop – que já foi presidida pelo ex-tesoureiro do PT João Vacari Neto – e o PT. Entre os oito apartamentos investigados, “com alto grau de suspeita”, está um tríplex ligado ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Até o momento, segundo os investigadores, não há provas materiais contra o ex-presidente. Mas a situação pode mudar quando os investigadores se debruçarem sobre os documentos apreendidos nesta nova fase.
Toda essa situação tem tirado Lula do normal estado de equilíbrio. No fim de semana, seus advogados disseram estar estudando medidas judiciais contra o promotor paulista Cassio Conserino, que investiga o tríplex ligado ao ex-presidente no Guarujá (litoral paulista) e que disse ter indícios suficientes para apresentar denúncia contra Lula por lavagem de dinheiro e ocultação de patrimônio.
Curiosamente, na semana passada, Lula recebeu blogueiros chapa-branca no instituto que leva seu nome para uma entrevista que mais parecia uma defesa antecipada. Disse que iria processar todos aqueles que, em seu entendimento, o estão difamando. Mas foi além. O ex-presidente praticamente canonizou a si próprio, cascateando não haver “uma viva alma mais honesta” que ele no país. O discurso de Lula parecia incompreensível. Mas, lido agora, em retrospecto, começa a fazer sentido.
Passa a ser compreensível também outra declaração de Lula na ocasião. Numa crítica à Lava Jato, teve o disparate de afirmar que hoje a violação de direitos humanos seria muito pior que na ditadura. Diferentemente do que declara Lula, as descobertas feitas pela força-tarefa da Lava Jato têm sido cruciais para romper com o sistema corrupto que seu partido ajudou a consolidar. Foi inclusive o escândalo da Petrobras que fez o Brasil cair sete postos no ranking de percepção de corrupção, que inclui 168 países e foi divulgado na quarta-feira pela Transparência Internacional. Nesse sentido, a queda do país no ranking não é uma má notícia, e sim um ponto de ruptura no combate à corrupção e na forma como o aparato judicial se comporta perante ela.
As críticas do ex-presidente aos procedimentos usados pela força-tarefa em nada têm relação com a defesa de valores republicanos e democráticos. Lula se mostra mais preocupado em desqualificar investigações contra si e contra companheiros – numa tentativa já exaurida de manter sobre si uma aura de santidade e, sobre PT, o papel de vítima – que com a defesa do Estado Democrático de Direito.
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