Após participar da reunião do Banco de Compensações Internacionais (BIS), na Basileia (Suíça), nos dias 9 e 10, Alexandre Tombini mudou de ideia sobre o que deveria ser a decisão do Comitê de Política Monetária (Copom), esta semana. Ali ele se informou melhor sobre os rumos da desaceleração da China e sobre o futuro dos preços internacionais do petróleo. Ambos com consequências desinflacionárias para o restante do mundo.
Embora os documentos oficiais do Copom e os pronunciamentos do presidente do BC tivessem formado a percepção no mercado de que o Copom aumentaria a taxa Selic em 0,5 ponto percentual, ainda dava tempo de comunicar uma mudança de rota ao mercado, ao deixar claro que todas as informações, inclusive as do Fundo Monetário Internacional (FMI), seriam avaliadas pelo Copom.
Na quinta-feira da semana passada Tombini foi avisado pelo FMI da revisão para pior que a instituição faria, em comunicado na terça feira desta semana, nas projeções de crescimento do Brasil para este (-3,5%) e para o ano que vem (zero).
O presidente do BC cogitou deixar os dados do FMI falarem por si, mas acabou decidindo usá-los como justificativa para um novo comunicado ao mercado. Chamou Anthero de Moraes Meirelles, diretor de Fiscalização, e ambos redigiram na noite de segunda-feira a nota que foi divulgada na manhã de terça, uma hora após o anúncio das novas projeções do Fundo.
Se entre os economistas, mesmo os mais conservadores, havia forte questionamento sobre a utilidade da elevação da taxa de juros, a grande maioria dos operadores do mercado financeiro convergiam para um aumento de 0,5 ponto percentual, que elevaria a taxa Selic para 14,75% ao ano.
Reunir o Copom na terça e quarta feira e não subir a Selic, sem dar um sinal prévio ao mercado, poderia gerar comoção nacional e até despertar suspeitas de vazamento de informações. Tombini optou por divulgar a nota mesmo sabendo que receberia severas críticas e que essa iniciativa arranharia a credibilidade do BC.
Convencido de que o mundo entrou em uma "espiral", ele resolveu arriscar, conta uma fonte. "É melhor ter perda de credibilidade do que fazer uma coisa sabendo que está equivocada", comentou.
As pressões políticas do PT e do ex-presidente Lula contra o aumento dos juros estavam estampadas diariamente nos jornais. Os pronunciamentos da presidente Dilma Rousseff e do ministro da Fazenda, Nelson Barbosa, de que o BC tem autonomia para decidir sobre juros foram, em geral, de pouca valia para os agentes do mercado. Têm a mesma força de persuasão de quando se declara que o técnico de futebol "está prestigiado".
"Aqui ninguém se move por pressão política ou por pressão do mercado", costumam afirmar os membros do Copom a cada suspeita de que a presidente passou alguma determinação para a política monetária.
Dilma achava que o comitê aumentaria a Selic em 0,5 ponto percentual, rezava para que fosse apenas 0,25 ponto percentual e foi surpreendida tanto pela nota de terça-feira quanto pela manutenção dos juros, sustentavam fontes oficiais ontem. Para esses informantes há uma grande diferença entre como as coisas ocorrem no governo e como a opinião pública suspeita que elas ocorram. Nas conversas entre a presidente e Tombini não há uma terceira pessoa para testemunhar o que de fato acontece. Sabe-se, também, que poucos vão acreditar nesses argumentos.
O BC divulgou no dia 8 a carta aberta ao ministro da Fazenda explicando por que a inflação fugiu da meta no ano passado, chegando a 10,67% para um teto de 6,5%.
Embora as notícias vindas da China já chacoalhassem os mercados desde o dia 4 de janeiro, todos leram a carta como mais uma reiteração de que os juros subiriam 0,5 pontos esta semana. Ontem, porém, estudiosos da política monetária no governo comentavam que a carta já indicava algumas pistas "dovish". Entre os parágrafos 30 e 38 o BC mencionava pelo menos três elementos que poderiam ser interpretados como sinal de que não era líquido e certo o aumento dos juros de 0,5 ponto percentual. Eram eles: "efeitos cumulativos que se manifestam com defasagem", um desenho de "política fiscal convincente e sustentável" e a referência ao "hiato do produto em território desinflacionário".
Na avaliação dos economistas oficiais, a atividade ainda não chegou ao fundo do poço. A retração continua, mas o ajuste externo impulsionado pela desvalorização cambial tem sido forte, e o ingresso de investimentos para a aquisição de negócios que ficaram baratos é substancial. Só na quarta-feira houve entrada líquida de US$ 850 milhões.
Nas reuniões da Basileia os dois assuntos mais discutidos a portas fechadas foram a piora da situação da economia na China - que em 12 meses até dezembro já perdeu US$ 900 bilhões em investimentos - e as razões para a queda de 15% nos preços do petróleo este ano.
A derrubada do preço do petróleo é preocupante, explica o corte de cerca de 50% nos investimentos norte-americanos nesse setor e a liquidação de ativos por parte de fundos soberanos. Os efeitos foram mais rápidos sobre os investimentos que sobre o consumo de derivados.
China e petróleo produziram queda de 13% do Ibovespa e no índice Dow Jones e queda de cerca de 20% nas bolsas chinesas neste início de ano. As bolsas dão a dimensão da confiança dos empresários.
Mas se há alguns supostos efeitos desinflacionários vindos do exterior, aqui a situação está longe de um conforto.
Pelo menos dois riscos inflacionários à frente podem atrapalhar os prognósticos do Copom para limitar a inflação de 2016 ao teto de 6,5%: a elevação da Cide e o preço da energia.
O BC não conta mais com a entrada em vigor da bandeira verde nas contas de energia este ano, prevista para abril ou maio. A informação é que a bandeira vermelha prevalecerá por todo o ano. Mesmo com toda a chuva no país, o custo da energia para consumidores residenciais e industriais se manterá elevado, pela continuidade do uso das usinas térmicas. Isso mostra que o curso da política monetária, agora, é uma questão em aberto.
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