segunda-feira, novembro 09, 2015

Última que morre - NATUZA NERY - COLUNA PAINEL

FOLHA DE SP - 09/11

Sentindo que o apoio da oposição se esvaiu depois de Eduardo Cunha apresentar os termos de sua defesa, a tropa de choque do presidente da Câmara prepara reação para não perder a sustentação velada que ainda conserva no DEM e no PSDB. Os aliados querem convencê-lo a dar sinais mais claros de que vai abrir o processo de impeachment de Dilma Rousseff. Para o grupo, essa expectativa poderia reverter votos de oposicionistas que hoje estão contra Cunha no Conselho de Ética.

Só vendo 1 
A esperança esbarra na percepção de parte da oposição de que Cunha e o Planalto fecharam um acordo para tocar os pedidos de impeachment em banho-maria.

Só vendo 2 
No Planalto, a avaliação corrente é a de que Cunha perde toda sua sustentação no momento seguinte à deflagração do processo.

Jogo de cena 
A fala de Aécio Neves, de que o PSDB não apoiou Cunha para a presidência da Câmara, foi vista como uma “senha” pela oposição. Apesar da relação com o peemedebista, a sigla guardava a desculpa para quando avaliasse que sua situação não tivesse mais solução.

Todo ouvidos 
Relator do processo de cassação de Cunha, Fausto Pinato (PRB-SP) se reuniu com o governador Geraldo Alckmin na sexta, ao lado de colegas da bancada.

Meia palavra basta 
O fato de a audiência ter sido agendada antes da escolha de Pinato como relator não impediu que o processo fosse tema da conversa. Alckmin recomendou “responsabilidade” ao deputado paulista.

‌Kit quorum 
Líder do governo na Câmara, José Guimarães (PT-CE) mandou distribuir pão de queijo na hora do almoço de quinta-feira para evitar que deputados saíssem sem votar a DRU na Comissão de Constituição e Justiça.

Kit voto 
O governo inicia a semana com a necessidade de uma “operação especial” para assegurar duas vitórias “essenciais”: a repatriação de recursos e a medida provisória do leilão das hidrelétricas.

Falando grego 
Investidores estrangeiros estão confusos com o que ocorre no Brasil. Apesar de precisar dar uma injeção de otimismo lá fora, o governo Dilma —raríssimas exceções — pouco tem falado com o público externo.

Alto lá 
Presidente da Fiesp, Paulo Skaf promete aumentar a pressão contra a volta da CPMF. “Se o governo quer mudar a Constituição, por que não muda para cortar gasto? Dá o mesmo trabalho. Falam de gastos obrigatórios como se eles tivessem sido mandados por Deus.”

Sinais trocados 
A adoção da idade mínima para a aposentadoria divide o governo. Enquanto Joaquim Levy (Fazenda) defende a medida publicamente, Carlos Gabas, secretário da Previdência, tentou acalmar as centrais sindicais, contrárias ao sistema, na semana passada.

Muita calma 
Aos sindicalistas Gabas lembrou a criação do fórum nacional da previdência, o que foi entendido pelos dirigentes como sinal de que a posição de Levy não é a única no Planalto.

Quase parando 
Um episódio da semana passada ilustra o processo de decisão do governo. No mundo instantâneo da internet, o Ministério da Justiça demorou 2 horas entre detectar e excluir a frase polêmica sobre jihadistas em uma rede social.

Racha trabalhista 
Cristovam Buarque (PDT-DF) tem colhido apoios para sair candidato à Presidência —apesar de a cúpula do partido já ter lançado o recém-filiado Ciro Gomes (CE) como postulante à sucessão de Dilma em 2018.

Bênção 
O senador, que tem apoio de parte da bancada, passou três dias da semana passada no Rio Grande do Sul e recebeu sinalização positiva da seção gaúcha do PDT. Aproveitou para visitar os túmulos de Leonel Brizola, João Goulart e Getulio Vargas.


TIROTEIO

Em um ponto todos concordam: a defesa de Eduardo Cunha consegue ser mais frágil que a do Brasil no 7 a 1 contra a Alemanha.

DO DEPUTADO SILVIO COSTA (PSC-PE), vice-líder do governo, sobre argumentos apresentados pelo presidente da Câmara para se salvar no Conselho de Ética.


CONTRAPONTO

Ponto de vista

A decisão de Eduardo Cunha (PMDB-RJ) de exigir que servidores da Câmara dos Deputados passassem por detectores de metais para entrar na Casa criou mal-estar nos funcionários do Legislativo. A medida, tomada após o peemedebista ter sido alvo de uma chuva de dólares falsos durante uma entrevista no Salão Verde, acabou revogada na própria sexta-feira, dia que entrou em vigor.

Depois de encarar a fila para entrar no prédio quando a ordem ainda estava valendo, um assessor parlamentar de um deputado do PMDB desabafou:

—A Câmara não precisa de detector de metais. Precisa de detector de mentiras!

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