Após oito mandatos, os social-democratas anunciam em documento político, pela primeira vez, ataque frontal ao excesso de gastos públicos
“Dilma Rousseff confiou demais em sua precária formação de economista. Ao escolher paus-mandados, tornou-se indissociável do fracasso. A presidente tem de interditar a economista. Para reverter expectativas adversas, atenuando os sacrifícios da estabilização em perdas de produção e emprego, Dilma deve se comprometer com mudanças, indicando pessoas com quem não gostaria de trabalhar e que provavelmente também não gostariam de trabalhar com ela”, prescrevia esta coluna em 10 de novembro de 2014.
“A indicação de Levy é um sinal de que o governo reconhece a importância da transparência e da credibilidade da política fiscal para escapar da estagflação. Caberia ao ‘Mãos-de-Tesoura’ recuperar os fundamentos fiscais da República, estabelecendo metas de superávit para reverter o descontrole orçamentário ora instalado. Mas uma desigual batalha se prenuncia. A cada evidência de compra de sustentação parlamentar, mais fragilizado o governo e maior a necessidade de lubrificar o presidencialismo de cooptação. Como aumenta o cerco do Poder Judiciário a essas práticas degeneradas, deve haver um estouro da boiada para cima de Levy em busca de verbas”, registrava esta coluna em 5 de janeiro de 2015, antecipando as dificuldades do ajuste fiscal.
A falta de apoio da presidente e do Congresso transformou o “Mãos-de-Tesoura”, o homem que ia cortar gastos, em mais um coletor de impostos. Descredenciando os esforços do ministro que lhe emprestava a credibilidade, a presidente desmoralizou seu próprio plano de estabilização. Continua emparedada entre a “sarneyzação” de seu mandato, em meio ao desastroso “feijão com arroz” na economia, e a “collorização”, o impeachment tentado pela oposição. Aumentar impostos, ceder à Velha Política e esfriar o Judiciário seria sua tentativa de sobrevivência política.
Não acredito que tenha sucesso por esse caminho. O aprofundamento da crise escreverá novo roteiro. Caminhamos para outro desfecho, mas não antes de quatro a cinco meses e não depois de outubro do ano que vem, quando ocorrerão as eleições municipais. Qual é a novidade? É o plano do PMDB, que ataca de frente, pela primeira vez, o problema estrutural do excesso de gastos públicos. Essa “ponte para o futuro” será atravessada, se não por Dilma, por Temer.
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