FOLHA DE SP - 08/11
Quem fala aqui não sou eu. Hoje quem escreve é Juliana Moura Bueno, 26, sugestão de mulheres do #AgoraÉQueSãoElas.
Juliana, cientista social, é chefe de gabinete da Secretaria Especial de Direitos Humanos do Ministério das Mulheres, da Igualdade Racial e dos Direitos Humanos. O texto dela:
"Há uma semana, a campanha #AgoraÉQueSãoElas começou a circular. Fomos surpreendidas(os) com uma efervescência de textos. O movimento crescia e crescia. O que vivenciamos, nos últimos dias, teve tanta intensidade que pode ser definido quase como um choque cultural.
As mulheres, que uma semana antes estampavam as manchetes pelos casos da jovem Valentina de 12 anos e pela votação do PL 5.069, estavam nas capas dos jornais, nas páginas principais dos maiores portais de internet do Brasil, nos mais diversos programas de rádio e até nos programas de televisão falando sobre o que é ser e viver mulher. E não é fácil.
A campanha foi ganhando corpo, força e fôlego. Eram textos de mulheres nos mais diferentes espaços. Mulheres trans, mulheres negras, mulheres periféricas. Mulheres empresárias, mulheres acadêmicas. Mulheres mães e mulheres filhas.
Mulheres que dificilmente, em outras condições, teriam esses espaços —e espaços livres para falarem das suas condições, de seus problemas, de suas dificuldades, de suas vivências. Afinal, dificilmente, em outra condição, encontraríamos um debate sobre a visibilidade e os direitos das mulheres lésbicas e de travestis e transexuais estampando o espaço da coluna sobre economia da seção "Mercado" da Folha. Dificilmente teríamos na página A2, de uma vez só, três textos de mulheres.
Para não ficar no achismo, resolvi ir à página da Folha na internet para contar quantos eram os colunistas homens e quantas eram mulheres. O número, no entanto, confirmou as nossas impressões: são 86 homens e 37 mulheres que escrevem na Folha periodicamente como colunistas. Sem contar os jornalistas especializados.
As diferenças numéricas são apenas expressão das desigualdades estruturais, históricas e culturais. Não achamos que os jornais deliberadamente escolhem homens para formarem majoritariamente seu corpo de colunistas. Mas a maioria desses dirigentes são homens que acabam formando equipes majoritariamente masculinas a quem cedem a voz da autoridade do assunto específico. E, se não pararmos para refletir sobre isso, essa espiral continuará girando infinitamente.
Essa semana cumpriu esse papel, mas ela em si não se basta. Nós estamos e continuaremos aqui e nas redes, mas também nas ruas, porque queremos apenas ser livres, e queremos isso para todas(os). Queremos mudar uma cultura de violência e violações, de depreciação, de subestimação das mulheres. E nós não vamos conseguir fazer tudo isso substituindo homens por mulheres nos espaços.
Nós vamos fazer isso transformando e ressignificando relações: de poder, econômicas, entre gêneros, relações de trabalho, relações familiares.
Esse tem que ser o começo de uma ocupação pública das vozes vulneráveis e femininas dos espaços, não porque queremos tomar lugar de homens, mas porque queremos eles sensibilizados para esta(r)mos juntas(os), ao lado deles, em condições iguais."
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