Folha de SP - 19/10
É difícil afastar-se da densa neblina em meio à qual se travam as batalhas da crise política. Correspondentes de guerra, que narram os choques à beira do campo, às vezes favorecem avaliações precipitadas da marcha da história.
Um erro recorrente é tomar a baixa de um general como o fortalecimento automático do flanco adversário. O cadafalso de Eduardo Cunha não significa o triunfo do governismo sobre a Câmara, na campanha para evitar o impeachment.
A agonia do deputado carioca, ouviu-se muito na semana passada, acarretou ganho de tempo para o Planalto. O tempo, entretanto, só tem feito trabalhar contra o governo desde o minuto seguinte à reeleição. Esse fato da crise não se alterou.
O tempo passou, e o círculo familiar de Lula foi alvejado em delação. O relógio andou para que o presidente do Senado e o líder do governo na Casa fossem também enredados. O tic tac do ponteiro despeja cada vez mais brasileiros no desemprego e na insegurança financeira.
Se pudesse influenciar a pauta, talvez fosse melhor para o governismo enfrentar logo uma petição de impeachment na Câmara, pois há boas chances de derrotá-la hoje. Daqui a 120 dias, a situação tende a piorar. Em 180 dias, mais ainda.
A verdade, contudo, é que ninguém governa esta crise. Ninguém controla os procuradores, os policiais, os magistrados, os fiscais de contas e os jornalistas que submetem a política nacional e seus grandes financiadores a um processo de responsabilização sem precedentes na nossa história.
Nesse ambiente, acordos por baixo do pano, como os que primeiro a oposição e depois o governo negociaram com Eduardo Cunha cravejado, são ilusões passageiras. O melhor pacto que os dois lados fariam agora seria entre si e à luz do dia, para fulminar depressa a lúgubre figura que ainda ostenta o mandato de presidente da Câmara dos Deputados.
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