Não seria razoável esperar que a presidente da República, em visita oficial à Suécia, onde pretendia convidar investidores a aplicar dinheiro no Brasil, declarasse que o país governado por ela e seu partido há quase 13 anos está atolado em grave crise política e econômica. O protocolar seria que ela dissesse que, sim, o Brasil vive problemas, mas que os está enfrentando. E que a potencialidade do país, somada à democracia que aqui vem sendo construída nas últimas décadas, sugere oportunidades.
Não foi o que se ouviu em Estocolmo. Dilma Rousseff insiste em especificar que nossos problemas são apenas conjunturais, o que quer dizer que não temos questões estruturais a resolver. Inadvertida, ela amplia, a cada dia, em cada fala, uma dúvida que, inevitavelmente, assalta a inteligência do investidor, do executivo e do governante de país desenvolvido: "Ela não sabe que a gravidade dos problemas conjunturais do Brasil - como é o caso da questão fiscal - se deve a inadiáveis questões estruturais? Ou, pior ainda, não pretende ou não sabe como enfrentá-las?"
O resultado desse tipo de discurso é que Dilma corre o risco de levar para o exterior a falta de credibilidade que enfrenta internamente, depois de ter prometido o paraíso para se reeleger e de ser obrigada a fazer o oposto para tentar corrigir o desarranjo fiscal que produziu. Mais grave é o risco de levar junto a credibilidade do país, já abalada com os rebaixamentos das notas de crédito pelas agências internacionais de ratings.
É por essas credenciais que a aparentemente categórica declaração da presidente de que o ministro da Fazenda, Joaquim Levy, fica no governo não ajudou muito a melhorar a expectativa dos agentes econômicos quanto ao futuro do ajuste fiscal e da economia do país. A pergunta que mais se tem ouvido é: "Por quanto tempo Dilma resistirá à pressão do ex-presidente Lula e do comando do próprio partido contra o ministro e seu plano de ajuste das contas públicas?"
Velha conhecida dos economistas é a máxima de que a incerteza é uma das fontes da recessão. Não há quem de bom senso e mediana responsabilidade faça investimentos em ampliação dos negócios sem uma visão razoavelmente clara dos rumos da economia. Tampouco se desconhece que não há saída para a recessão - que este ano é calculada em 3% e em pelo menos 1% em 2016 - sem a solução do impasse político que impede o governo de aprovar o que precisa no Congresso Nacional.
A manutenção do ministro Levy seria, quando nada, a sinalização de que o governo não pretende seguir a cartilha do PT, que prevê o relaxamento da austeridade, ou seja, aumento em vez de corte de gastos e afrouxamento da política monetária. Não se sabe em que mina de ouro se buscaria dinheiro para bancar, agora, a repetição da festa que levou o país ao abismo fiscal em que se encontra.
O certo é que essa seria a receita exata para alijar o Brasil do mercado internacional de crédito, com a imediata perda do grau de investimento pelas demais agências. Não é por outro motivo que as ameaças que sofre o ministro da Fazenda repercutem negativamente no mercado financeiro, profissionalmente obrigado a antecipar tempestades ou bonanças. Também por isso é desconfortável saber que a garantia de sua manutenção tem o mesmo tamanho da credibilidade da presidente.
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