A indústria de petróleo e gás tem histórico de volatilidade de preços, é capital intensiva e seus investimentos têm longa maturação. Isso exige grande disciplina de capital, gestão de custos e constante avaliação de portfólio de ativos. A manutenção de baixo nível de endividamento confere robustez para enfrentar cenários de baixos preços de petróleo.
A Petrobrás aumentou substancialmente seus investimentos a partir de 2005, quando alcançaram o valor anual de US$ 10,6 bilhões. O investimento médio anual entre 2007 e 2014 foi de US$ 43,2 bilhões, tendo atingido seu ápice em 2010: US$ 85,9 bilhões. Em 5/10/2015, a Petrobrás anunciou redução de seus investimentos referentes a 2015 e 2016 para US§ 25 bilhões e US$ 19 bilhões, respectivamente.
A meta de produção de petróleo em 2020, no Plano de Negócios 2011-2015, era de 4,9 milhões de barris/dia (mmb/d); no Plano de Negócios 2012-2016, foi reduzida para 4,2 mmb/d; e, no plano de 2015-2019, foi reduzida para 2,8 mmb/d. Certamente, o nível atual de preços de petróleo no mercado internacional impacta investimentos, mas não a ponto de causar essa expressiva redução.
Os custos de produção e prestação de serviços (CPV) estão intimamente relacionados à qualidade dos investimentos realizados, ao índice de custos da indústria de petróleo e à taxa de câmbio, e não serão objeto deste artigo, que trata das despesas operacionais que são em grande parte gerenciáveis.
Ao olharmos as despesas operacionais, é importante ressaltar que muitas não podem ser analisadas sob a ótica de porcentual que representam em relação ao faturamento da empresa, pois não têm relação com preços da indústria. A simples volatilidade de preços levaria a diferentes conclusões.
As despesas de vendas/gerais/administrativos da Petrobrás em 2014 foram de R$ 27,2 bilhões (e R$ 7,0 bilhões se referem somente à área Corporativa). Seria razoável supor que haveria ganho de escala com o crescimento da empresa nesse tipo de custo, mas isso não aconteceu. Pelo contrário. No período 2005 a 2014, o custo de vendas/gerais/administrativos cresceu, em média, 10,7% ao ano, bem acima da inflação no período. A possível razão, além da falta de disciplina na gestão de custos, foi o montante gasto com propaganda institucional. Defendo a transparência do gasto de propaganda da empresa, pois isso funcionaria como forte blindagem empresarial. Estes gastos devem ser compatíveis com pares da indústria.
No período de 2005 a 2013, o número de funcionários do Sistema Petrobrás aumentou em 32.207 funcionários, o que representou crescimento de 59,7% sobre a base de 2005. Além do imenso desafio de treinamento e gerenciamento, a empresa ampliou de forma expressiva sua infraestrutura corporativa. Além das despesas da área Corporativa, chama a atenção o investimento em ativo imobilizado dessa área: este aumentou de RS 1 bilhão, em 2005, para RS 74 bilhões, em 2014. Com o mercado de capitais brasileiro desenvolvido e a forte marca Petrobrás, certamente a empresa poderia ter feito melhor alocação de capital.
Em dezembro de 2013, as áreas Corporativa, Estratégica e Financeira tinham 4.995,1.960 e 1.892 funcionários, respectivamente. Ciente de que sua estrutura organizacional estava superdimensionada, a Petrobrás lançou em 2014 um Plano de Incentivo ao Desligamento Voluntário (PIDV), que teve adesão de 8.298 funcionários e gerou provisionamento de RS 24 bilhões.
Outro item de custo que merece atenção é Relações Institucionais e Culturais, que recebeu RS 13,5 bilhões de 2005 a 2014. Não questiono a pertinência de gasto em propaganda e relações institucionais e apoios culturais. Questiono a razoabilidade dos valores desembolsados e sua motivação: visaram exclusivamente aos interesses da empresa e de seus acionistas ou serviram como propaganda de governo?
O fato de a Petrobrás ser sociedade de economia mista não permite o seu uso por seu controlador para objetivos de governos. O Artigo 116 da Lei das S A é bem claro.
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