Folha de SP - 17/10
A divulgação de documentos comprovando a existência de contas bancárias na Suíça em nome do deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) vem representar a derrocada de uma figura que, por um bom período, ocupou o papel que os partidos oposicionistas no Congresso Nacional não souberam ou não tiveram condições de exercer.
Recaiu sobre Cunha o manto, que não lhe servia em nenhuma hipótese, de grande magistrado nacional e de procurador-geral da moralidade, na possível iniciativa de desencadear processo de afastamento da presidente da República, Dilma Rousseff (PT).
A esse título, vinha sendo abjetamente cortejado por uma oposição que encampa, com má memória de seus próprios mensalões, a defesa do patrimônio público.
Segundo o noticiário da TV Globo, seria equivalente a R$ 23,8 milhões, pelo menos, o total dos recursos secretamente transferidos para a Suíça em benefício do atual presidente da Câmara dos Deputados.
O peemedebista teria encerrado duas contas há pouco mais de um ano, quando começaram a surgir resultados da Operação Lava Jato.
As revelações parecem selar o destino do deputado, que já tivera frustrado no Supremo Tribunal Federal seu plano de dividir com o plenário da Câmara a responsabilidade pela abertura do processo de impeachment.
Nem por isso parecem diminuídas as preocupações do governo. Afora eventual ato de desespero do presidente da Câmara, outros perigos assombram os esquemas do PT.
Graves denúncias aproximam-se do ex-presidente Lula. Sua nora teria recebido R$ 2 milhões de um pecuarista amigo, em transação feita pelo lobista conhecido como Fernando Baiano, a título de propina.
Não é a única notícia de irregularidades envolvendo familiares de Lula, e pesam sobre o próprio petista, como se sabe, suspeitas de atuação indevida em favor de empresas implicadas na Lava Jato.
Os estrategistas do Planalto, cujos escassos talentos têm sido postos rudemente à prova, veem-se ocupados, assim, em obscenas e contraditórias ações de blindagem.
Lula poderia proteger-se de iniciativas judiciais de primeira instância se lhe fosse concedido um posto ministerial. Cunha poderia ser preservado caso não se disponha a atacar. Como as ruas reagiriam a manobras tão deploráveis?
Sobre uma conjuntura que pode conhecer reviravoltas a todo instante, não é possível arriscar previsões, mas uma conclusão se tira.
Num ambiente de corrupção generalizada, acusadores e acusados, aliados e adversários trocam de papel sem que seus discursos e lemas tenham qualquer relevância –e a propina, que antes se contava em dólares, talvez se calcule hoje em meses ou anos a menos de cadeia.
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