O Estado de S. Paulo - 05/06
A greve dos professores da rede estadual de ensino não é nem greve nem é de professores. É um movimento político desencadeado por sindicalistas extremistas que usam reivindicações salariais absurdas como arma para desgastar um governador que é de um partido considerado inimigo. Fazem muito bem as autoridades em não negociar com quem não tem nenhuma intenção senão a de criar confusão - inclusive dentro do próprio movimento, como provam as cenas lamentáveis de brucutus a se estapear na última assembleia da Apeoesp, o sindicato dos professores estaduais paulistas. E pensar que é a tipos assim que nossas crianças estão entregues.
O espírito antidemocrático do movimento ficou claro no entrevero na Avenida Paulista. Pouco antes da votação que decidiu pela continuidade da paralisação, houve pancadaria, pois os ânimos estavam exaltados. Não é para menos - afinal, muitos dos que aderiram à greve perceberam que ela não tem mais sentido, nem mesmo político. Foram calados à força.
A assembleia votou pela manutenção da paralisação, mas o resultado apertado - que exigiu duas votações para ter certeza da decisão - indica que ao movimento resta somente a truculência, pois não conta com apoio firme nem mesmo dentro de suas hostes.
Faz sentido que assim seja. A greve nunca teve adesão significativa, pois desde o princípio ficou escancarada a sua má-fé. Em primeiro lugar, o movimento foi deflagrado em março não como instrumento legítimo de reivindicação, e sim para adornar os protestos a favor do governo federal petista e contra a administração tucana em São Paulo. Foi dessa maneira irresponsável que um punhado de sindicalistas resolveu causar prejuízos a milhares de alunos da rede pública, se isso resultasse em desgaste para o governador Geraldo Alckmin.
A pauta de reivindicações dos grevistas era propositalmente inexequível. Eles exigiam aumento salarial de 75,33%, com o argumento de que esse reajuste equipararia os vencimentos dos professores aos dos demais funcionários públicos de nível superior. No entanto, segundo o governo, os professores já receberam reajuste acumulado de 45% nos últimos quatro anos, um aumento real de 21%, colocando o piso da categoria em São Paulo 26% acima do piso nacional. Ademais, o último reajuste foi dado há menos de um ano, em julho de 2014, razão pela qual o governo só aceita abrir negociação em julho.
Coberto de razão, pois negociar com os grevistas nessas condições seria abrir um precedente inaceitável, Alckmin mandou não pagar os dias parados - decisão avalizada pelo Superior Tribunal de Justiça. A previsível indisposição do governo para dialogar com quem quer apenas causar embaraços políticos foi usada pela Apeoesp, controlada pelo PT e por legendas radicais sem voto, como PCO e PSTU, para demonstrar a “intransigência” de Alckmin. Em uma das assembleias, a presidente da Apeoesp, Maria Izabel Azevedo Noronha, chegou a dizer que “professor faz greve de cabeça erguida, mas de joelhos para o tucanato, jamais”.
Na presunção de que o desgaste estava rendendo os frutos desejados, os sindicalistas decidiram manter indefinidamente o movimento - que já passou de 80 dias e se tornou a maior greve da história da rede pública paulista. A tática dos grevistas incluiu atazanar o governador em todos os eventos públicos aos quais ele compareceu nesse período e invadir a Secretaria da Educação.
A Apeoesp jura que a greve tem a adesão de 30% da categoria, mas já chegou a falar em 60%. Para o governo, não passam de 4% os professores parados. Como é uma greve que não tem nenhuma razão de ser, salvo prejudicar a imagem de Alckmin, qualquer porcentual de escolas e estudantes afetados deve ser considerado excessivo.
Por esse motivo, já passou da hora de encerrar um movimento cujo único mérito foi ter escancarado a falta de vocação petista e de seus associados radicais para o diálogo democrático e responsável. Formada na escola do radicalismo inconsequente, essa turma só consegue dar aula de bagunça.
Nenhum comentário:
Postar um comentário