O GLOBO - 21/06
Em outubro passado, quando o “amigo Paulinho” (expressão carinhosa atribuída a Lula) jogou a Odebrecht na frigideira da Lava-Jato, o presidente da empresa, Marcelo Odebrecht, soltou uma nota oficial dizendo o seguinte:
“Neste cenário nada democrático, fala-se o que se quer, sem as devidas comprovações, e alguns veículos da mídia acabam por apoiar o vazamento de informação protegida por lei, tratando como verdadeira a eventual denuncia vazia de um criminoso confesso que é ‘premiado’ por denunciar a maior quantidade possível de empresas e pessoas”.
Passados oito meses, o doutor, bem como Otávio Azevedo, presidente da empreiteira Andrade Gutierrez, estão na carceragem de Curitiba. Ao expedir a ordem de prisão contra eles, o juiz Sérgio Moro deu uma demonstração parcial da quantidade de provas acumuladas pela Polícia Federal e pelo Ministério Publico.
A Odebrecht e a Andrade Gutierrez não são acusadas só pelo “amigo Paulinho” mas também por três dirigentes de empreiteiras, que descreveram o funcionamento do cartel de roedores da Petrobras. Rastreamentos internacionais de depósitos bancários, anotações e mensagens eletrônicas documentaram a ordem de prisão expedida pelo juiz Moro. Diante de tanto material, a nota de outubro parece ter sido produto de um destempero de Odebrecht.
Na lista de presos da Lava-Jato entrou João Antonio Bernardi, que trabalhou na empreiteira e também na Camargo Corrêa. Durante algum tempo ele esteve na empresa Hayley, que mimou o diretor da Petrobras Renato Duque com R$ 500 mil em obras de arte. Talvez Bernardi tenha algo a contar. A polícia e os procuradores certamente têm o que perguntar.
Por mera curiosidade, ele poderá esclarecer um episódio. Há algum tempo, carregando uma maleta na avenida Chile, a caminho da Petrobras, teria sido assaltado. O pivete levou a maleta e ele teria apresentado queixa à polícia. O que carregava, não se sabe.
No meio de tanta gente boa metida nas petrorroubalheiras, o ladrão da maleta pode ter sido o único que, como o J. Pinto Fernandes do poema “Quadrilha”, de Carlos Drummond, “não tinha entrado na História”.
Franklin Martins e seu tesouro musical
Estão chegando às livrarias dois volumes de “Quem foi que inventou o Brasil? — A música popular conta a História da República”, do jornalista Franklin Martins, ex-ministro da Comunicação Social de Lula. Com 1.100 páginas e mais dois quilos de peso, são um verdadeiro tesouro. Neles, está documentada a História política da música popular brasileira, desde composições do tempo do Império até a “Canção do Subdesenvolvido”, de 1961. Com ela, a esquerda delirava ao dizer que o mundo (leia-se os Estados Unidos) estava a “comprar minério” e “vender navios”. É o que hoje fazem os chineses, mas deixa pra lá.
Franklin Martins é um pesquisador obsessivo da música popular e dos detalhes da política nacional. Trabalhou 15 anos no projeto e fez dois livros excepcionais por quatro motivos: coletou as letras de 784 canções, acrescentou a cada uma comentários de fina percepção e ilustrou-os com mais de 600 fotografias e reproduções. Se isso fosse pouco, rompeu a limitação imposta pelo papel impresso, colocando todas as gravações no site dedicado à obra. Falar de músicas só com palavras deixou de ser uma trava e virou um prazer: o leitor ganhou acesso a um arquivo sonoro com cerca de 40 horas de música.
Planos de saúde
As operadoras de planos de saúde são incansáveis. Há alguns meses, tentaram criar uma nova forma de cobrança para as multas por falta de cumprimento dos contratos. Enfiaram numa medida provisória um gato pelo qual quanto mais a operadora delinquisse, menor seria o valor unitário da multa. Felizmente, a doutora Dilma vetou a gracinha.
Agora conseguiram tirar do ar o ranking no qual a Agência Nacional de Saúde Suplementar listava os planos que acumulavam mais queixas.
Esse ranking existia desde 2002. Segundo a ANS, ele saiu do ar porque a metodologia será mudada. Tudo bem, mas nada impedia que continuasse sendo divulgado até que o novo sistema ficasse pronto.
Faz pouco tempo, poderosos empreiteiros acreditavam ser onipotentes, porque o comissariado usava seus aviões ou contratava suas empresas de consultoria. Deu no que deu.
TSE
O ex-procurador-geral Aristides Junqueira poderá até vir a ser indicado para uma vaga do Tribunal Superior Eleitoral. Como acumulará o cargo com a atividade de advogado do governador Tião Viana (AC), ficará numa posição difícil, até porque a defesa de seu cliente dará um trabalho danado. Tião Viana caiu na rede da Lava-Jato e responde a um processo no Superior Tribunal de Justiça.
A doutora Dilma tem uma encrenca marcada no TSE. Lá correm dois processos contra seu mandato. Um deles pode ir para a pauta antes de setembro. Se não for, no próximo ano a Corte será presidida pelo ministro Gilmar Mendes, do STF.
Pedaladas
Quando o Planalto resolveu jogar bancos oficiais na frigideira das pedaladas, foi expressamente advertido da possível ilegalidade do truque.
O comissariado justificou-se reconhecendo que as pedaladas seriam o único recurso para evitar que o governo fosse apanhado descumprindo a Lei da Responsabilidade Fiscal.
Eremildo, o idiota
Eremildo é um idiota e acha que estão satanizando os empréstimos que o BNDES faz aos maganos do empresariado nacional. Deu toda razão ao presidente do banco, Luciano Coutinho, quando ele disse que há “desonestidade intelectual” nas críticas. Já o doutor Marcelo Odebrecht, contratador de R$ 24 bilhões em empréstimos, confessou-se “frustrado e irritado” diante das reclamações em torno de atos lisos e legais.
O idiota acha que ambos são perseguidos, mas fez uma conta. O dinheiro dele, arrecadado compulsoriamente, vai para o Fundo de Amparo ao Trabalhador e é remunerado a algo como 6% ao ano. Admitindo que desde 2007, quando o doutor Coutinho foi para o BNDES, tenham capturado a cada ano R$ 40 mil de dez trabalhadores para ampará-los, eles hoje têm um pecúlio de R$ 424,4 mil.
Se durante esse mesmo período os doutores Coutinho e Odebrecht colocaram R$ 40 mil anuais de suas poupanças em papéis remunerados à taxa Selic do Banco Central, conseguiram R$ 538,7 mil.
Coutinho empresta a juros camaradas, e Odebrecht está entre os que recebem. O idiota sabe que eles querem criar empregos e propõe que ambos transfiram suas carteiras de investimentos para a taxa do FAT. Criarão empregos com o dinheiro deles.
Nenhum comentário:
Postar um comentário