FOLHA DE SP - 08/02
Semana foi uma amostra grátis de desastres que podem se espalhar pelo ano inteiro
DILMA ROUSSEFF deve estar ansiosa pelos dias de amnésia barulhenta ou retiro do Carnaval, pois seu governo samba na frigideira quente de várias crises. Na folga folgazã, talvez a chapa esfrie.
A semana que passou oferece uma amostra grátis de problemas que podem desorientar de vez este governo pelo resto do ano. Caso não se aprume, e tomara que se reoriente, esta administração que mal fez um mês pode se enredar numa espiral de crises políticas e econômicas que se realimentam.
Na semana, houve a debandada da diretoria da Petrobras e o tumulto da nomeação de seu novo presidente, apoteose que provocou um desfile de críticas à presidente da República, entre as quais a de alheamento da realidade.
Ainda nada se sabe do que Aldemir Bendine fará ou poderá fazer da petroleira. Mas sua indicação para o comando da empresa foi interpretada, na melhor das hipóteses, como a continuação das políticas que levaram a Petrobras à quase asfixia financeira e, ainda, das intervenções equivocadas de Dilma 1 na estatal. Dado o tamanho da crise, tal atitude mostraria quão alheada a presidente está do humor do país, ao menos do da elite que se ocupa dessas coisas e dos credores da Petrobras, para não dizer do governo mesmo.
Caso se confirme a hipótese de continuidade, prosseguirá a degradação do crédito da companhia, crise que continuaria a se espalhar por empresas dependentes e contaminaria o restante do ânimo da economia. Nesse caso, para nem falar dos rolos político-policiais, aumentaria a impressão de que o governo perdeu o controle da situação, o que, por sua vez, contribuiria para solapar ainda mais o prestígio político da presidente. Figuras fracas ficam sujeitas a abutres.
O tumulto no setor de petróleo, construção naval, civil e mesmo finanças pode piorar por outros motivos. A nova fase da Lava Jato levanta suspeitas contra mais empresas relevantes, que podem perder crédito e créditos, o que provocaria um dominó de inadimplências.
A nova CPI da Petrobras é em si mesma um nada. Mas trata-se de um exemplo adicional, como se fosse preciso, da animosidade do Congresso em relação à presidente. Isso à beira da denúncia dos políticos com as mãos sujas do Petrolão. O risco aqui é, literalmente, incalculável, e o governo até agora não mostrou que sabe como administrar a crise.
Como se não faltasse tensão, fica mais clara a reação defensiva-agressiva do PT ao novo jorro de acusações contra o partido ou ao menos contra seu tesoureiro. O PT começa a adotar posição de combate ruinoso, um tanto à maneira da época do mensalão: dane-se o teor das denúncias, o negócio é salvar o partido, como se fosse possível fazê-lo sem aceitar uma limpa.
Por fim, o governo Dilma Rousseff começa a pagar a conta da demagogia e de procrastinações eleitoreiras. Para 60% dos brasileiros, a presidente disse mais mentiras do que verdades na campanha. Entre as pessoas com ensino superior, renda maior que dez salários mínimos ou moradores de São Paulo, o descrédito da presidente passa de 70%.
Seu prestígio passou do nível do chão aonde foi no Junho de 2013. Isso quando ainda mal começam a pesar no dia a dia os efeitos da crise: tarifaço, inflação, impostos e desemprego maior.
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