As confissões dos delatores - que, em tese, não podem mentir sob o risco de perder o benefício de redução da pena - indicam que o bilionário esquema de ladroagem montado na Petrobras estendeu os tentáculos a praticamente todas as grandes obras federais. O mais intrigante de tudo, até agora, é que, na organização criminosa, não havia chefe. Ou, pelo menos até agora, o dedo do poderoso chefão da quadrilha, que atuou durante os governos de Lula e Dilma, não apareceu na história.
Nas delações, réus contaram que parte do dinheiro roubado era rapartido entre PT, PP, PMDB e políticos aliados do governo. Seria por decisão espontânea que os integrantes do bando resolveram destinar parte da bufunfa aos partidos que dão sustentação ao Planalto? Não. Não foi apenas por generosidade. É inconcebível, inacreditável, que alguém surrupie bilhões de dólares de uma empresa, ainda mais com ações negociadas na bolsa de valores, como a Petrobras, sem que ninguém perceba.
Teriam os bandidos passado a perna assim tão facilmente na cúpula da estatal? São Tomé que sou, imagino que não: era preciso ser muito ingênuo para não perceber nada; ou, então, incompetente ao extremo; ou, por fim, cúmplice. Há indícios, colhidos nas confissões, mas nenhuma prova apresentada publicamente, de que o esquema tinha o aval de poderes acima da Petrobras. Na empresa, pessoas erradas em postos de comando institucionalizaram a roubalheira. Só pegava obra quem topasse entrar no clube da propina.
Agora, imagine que todo esse megaesquema veio abaixo praticamente por acaso. A Polícia Federal investigava lavagem de dinheiro. Um dos alvos era o doleiro Alberto Youssef e o então diretor da Petrobras, Paulo Roberto Costa. Ao prendê-los, percebeu que integravam organização muito maior. Como num dominó, uma a uma as peças da máfia que saqueava a Petrobras começaram a ruir. Falta chegar aos políticos. Inclusive, ao capo dei capi, artífice de maracutaias que vão além da estatal: agenda do doleiro apreendida na operação indica que o esquema abarca outras 747 obras de infraestrutura país afora. Em muitas delas, o TCU já havia apontado irregularidades.
Um comentário:
Hugo Chávez ensinou o PT (Lula) a usar de forma viciosa as empresas estatais
Uma das lições que Hugo Chávez deixou para os “companheiros” sul-americanos foi a de como usar viciosamente as empresas estatais. Como a Venezuela vive exclusivamente do petróleo — essa sua única, e muito mal administrada riqueza —, e quem cuida dele é uma empresa estatal, ela se prestou, e se presta ainda, a desvios e roubos. No caso venezuelano, porque o dinheiro está quase todo ali, e como, mesmo nas semiditaduras, é mais fácil roubar uma empresa do que a administração centralizada, foi a PDVSA (Petróleos de Venezuela Sociedad Anonima), a Petrobrás lá dele, que Chávez usou nos seus desmandos.
No rumoroso caso da apreensão de quase 1 milhão de dólares enviados por Chávez para a eleição de Cristina Kirchner, em agosto de 2007, o avião usado era fretado pela petroleira argentina Enarsa, e os portadores da pecúnia, funcionários da PSDVA.
Como se lembram os leitores, um zeloso funcionário da alfândega argentina descobriu e apreendeu o dinheiro, o que resultou em escândalo. A despeito disso, Cristina foi eleita, certamente com outras ajudas de Hugo Chávez.
Foi da PDVSA, também, o avião que buscou clandestinamente no Brasil os pugilistas cubanos fugitivos, que Tarso Genro entregou a Fidel Castro, em 2007. Em julho de 2008, a imprensa internacional denunciou o uso de um avião da PDVSA para transportar guerrilheiros das Farc para a Nicarágua, onde tiveram encontro com Daniel Ortega.
A PDVSA empresta três aviões para Raul Castro, entre eles um Falcon 900, prefixo YV2053, um dos jatos executivos mais luxuosos do mundo. No ano de 2013, “desapareceram” na contabilidade da empresa cerca de 3 bilhões de dólares, segundo a auditora KPMG.
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