O GLOBO - 06/11
Depois de declarações de Aécio, em entrevistas e no Senado, o governo deve se preparar para enfrentar uma oposição dura, mas sempre dentro dos marcos legais
Uma das análises consensuais do resultado das eleições é que a trajetória do candidato tucano Aécio Neves o credencia a ser o grande líder das oposições a partir de sua cadeira no Senado, na qual representará Minas por mais quatro anos.
Desacreditado no primeiro turno assim que o destino colocou Marina Silva em posição privilegiada na disputada direta pela Presidência, Aécio continuou a acreditar na sua candidatura. Talvez fosse o único.
Conseguiu unir o PSDB em torno de si — algo que se pensava impossível —, enquanto resgatava a figura simbólica de FH, e, sem se envergonhar das reformas econômicas empreendidas pelo partido, foi para o segundo turno e perdeu para o rolo compressor aético da campanha da reeleição da petista Dilma Rousseff por apenas três pontos percentuais.
O desembarque do senador mineiro em Brasília, terça-feira, e seu primeiro discurso no Senado, ontem, começaram a justificar expectativas com relação ao papel de Aécio na oposição, a partir de agora.
Recepcionado como vitorioso ao chegar em voo comercial, o líder tucano se pronunciou, em entrevista, de forma certeira, sobre manifestações descabidas pelo impeachment da presidente Dilma e de apoio a um golpe militar. No fim de semana, em São Paulo, houve uma passeata em que se destacaram cartazes com mensagens descabidas como estas.
— Eu respeito a democracia permanentemente e qualquer utilização dessas manifestações no sentido de qualquer tipo de retrocesso terá a nossa mais veemente oposição — declarou na terça.
Da tribuna do Senado, numa sessão cercada de grande expectativa, Aécio se colocou como representante de um “movimento”, não de um partido ou aliança partidária, que nas urnas teve o apoio de 51 milhões de brasileiros, apenas 3 milhões a menos que Dilma.
Acertadamente, não deixou de reconhecer o resultado das urnas, algo essencial para o jogo da democracia. Impeachment não existe para servir de “terceiro turno” eleitoral. E golpe militar, como aprendeu o Brasil, é uma porta aberta para o precipício do arbítrio e tentações de perpetuação no poder. Essas duas tresloucadas bandeiras apenas repetem o pior de algumas falanges petistas: quando, no início do segundo mandato de Fernando Henrique, pregaram o “Fora FHC”, e, nos tempos que correm, buscam se manter no poder por meio de atalhos golpistas, como o da “Constituinte exclusiva”, convocada sob pretexto de fazer uma reforma política de conveniência, sem obedecer os trâmites previstos no Estado de Direito.
Depois do que disse Aécio, fica ainda mais claro que o Planalto deve se preparar para enfrentar uma oposição dura, agora com maior respaldo na sociedade, mas sempre dentro dos marcos legais. A recíproca deveria ser verdadeira.
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