É mais complicada do que parece a herança que o segundo governo Dilma receberá do primeiro, pelo menos no campo da economia, em que o país se debate com inflação em alta e crescimento em baixa. Vistos assim do alto, esses dois resultados - ruim, no caso da inflação e desastroso, no do crescimento - não parecem dizer quase nada às pessoas que, nos últimos anos, tiveram alguma melhora em relação às péssimas condições de vida que enfrentavam anteriormente.
Ainda que elas não saibam, esse é um perigoso engano. Foi o crescimento de anos anteriores a 2009 (crise mundial) que garantiu o aumento dos empregos na economia brasileira. E deveu-se à relativa estabilidade da moeda o aumento continuado da renda e, principalmente, do poder de compra dos salários. Isso gerou impostos, que pagaram o investimento em programas sociais, entre eles, os que retiraram milhões da miséria extrema.
Por isso mesmo, é preocupante a constatação do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) de que, entre 2012 e 2013, a miséria, caracterizada pela condição de sobrevivência com apenas R$ 70 por mês, aumentou no país, depois de pelo menos oito anos consecutivos de queda. O percentual do aumento (3,6% da população para 4%) pode parecer inexpressivo.
Mas revela que, em apenas um ano, 870.676 pessoas entraram na miséria, invertendo a curva de uma importante conquista social. Nem é preciso ir muito longe para traçar um paralelo entre essa má notícia e a perversa soma de baixo crescimento com alta do custo de vida.
Ante a urgência de inverter essa situação, chega a ser assustadora a afirmação da autoridade monetária - encarregada de evitar a disparada dos preços - de que não há previsão de convergência da inflação para a meta de 4,5% ao ano antes de 2016. É o que está bem claro na ata da última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central, em que foi decidida a elevação da taxa básica de juros de 11% para 11,25% ao ano.
Não é à toa que a maioria dos especialistas aposta em mais dois aumentos de 0,25%, em dezembro e em janeiro, de modo a preparar o controle da inflação para o impacto do inadiável fim de imbróglios varridos para debaixo do tapete de 2015. São eles o aumento da gasolina (cerca de 5%) e o da conta de luz (cerca de 20% em média).
Ou seja, depois de 6,50% em 2011, 5,84% em 2012, 5,91% em 2013 e 6,50% em 2014, os preços continuarão variando acima da meta de 4,5% também em 2015 e no começo de 2016. Mesmo assim, a projeção de queda para 2016 ainda vai depender do severo controle de gastos do governo e da oscilação do dólar, que pesa cada vez mais no custo de insumos e numa miríade de produtos importados para o consumo.
A prática do gasto crescente sem aumento igual de receitas (estão menores por causa da baixa atividade econômica) conduz o país, primeiro, ao endividamento e, depois, ao precipício, levando consigo os programas sociais, que não terão financiamento. Melhor a presidente reeleita tratar da mudança e da condução da política econômica. Quanto menos demorar, melhor.
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