O que os brasileiros podem esperar da gestão Dilma Rousseff nos próximos quatro anos? Não sei. E suspeito de que a presidente recém-eleita também não saiba. Na economia ela fez, até agora, o que durante a campanha eleitoral ela disse que não faria: elevou juros, aumentou o preço dos combustíveis e deixou o dólar correr mais frouxo. Demitiu o ministro da Fazenda e disse que só vai anunciar o substituto "semanas" (não disse quantas) depois da reunião do G-20 (15/11 e 16/11), alimentando dúvidas e a desconfiança dos empresários.
Depois de eleita, Dilma deu entrevistas a quatro emissoras de TV, tirou quatro dias de férias e chamou quatro jornais para uma conversa na quinta-feira. Nas entrevistas, repetiu a promessa de punir a corrupção ("doa a quem doer") feita há quatro anos, na primeira posse, e não cumprida; declarou-se "estarrecida" com as reações da oposição; avisou que "nem que a vaca tussa" vai extinguir ministérios; e chamou tarifas represadas de "lorota". Prometeu "cortar gastos e apertar o controle da inflação", sem especificar o que fará para consegui-lo. E falou muito de "diálogo", mas não apresentou propostas nem definiu sobre o que dialogar.
Há quatro anos, Dilma Rousseff chegou à Presidência com ideias. Algumas descosturadas, outras equivocadas, mas ideias. Quase tudo deu errado. O Produto Interno Bruto (PIB) desabou, o desequilíbrio fiscal piorou, a inflação disparou, a taxa de investimento recuou, o comércio exterior ficou deficitário, a arrecadação tributária caiu com a economia em queda e desonerações desconexas, a indústria perdeu importância, o valor da Petrobrás despencou, as empresas elétricas se desorganizaram, desvalorizaram e com a seca passaram a viver de subsídios que o governo atrasa e demora a pagar.
Os fracassos geraram perda de confiança em seu governo - de investidores, de empresários e de 51 milhões de brasileiros que votaram na oposição. Os acertos em sua gestão são os programas sociais que distribuíram renda aos mais pobres, a baixa taxa de desemprego e o aumento da renda dos salários. Mas, se a economia não prosperar, os investimentos não retornarem e o País não voltar a crescer, as conquistas sociais ficam ameaçadas (o desemprego já reapareceu).
O segundo mandato começa com um dilema para Dilma: o que fazer agora? Na campanha eleitoral seu lema foi "governo novo, ideias novas", mas o que apresentar de novo aos brasileiros? A demora na escolha do ministro da Fazenda é sintoma das indefinições de Dilma. Ela recusou três nomes sugeridos por Lula: dois por vê-los ligados ao mercado financeiro e o terceiro por ter sido seu desafeto no passado. Na verdade, ela preferiria alguém com experiência, competência, respeito e reconhecimento do mundo econômico e capacidade de reunir uma boa equipe, de formular um novo programa de governo na direção do crescimento e de devolver a confiança perdida no primeiro mandato. Existem profissionais com esse perfil, mas difícil é ela encontrar alguém com todos esses atributos e que acate sem discutir, muito menos contestar, suas assíduas e não raro disparatadas interferências (ou imposições?). Como foi Guido Mantega.
Não há ministro, não há equipe econômica nova nem ideias diferentes das que ela já experimentou e deram errado. Nestes quatro anos de governo ela resistiu em reconhecer e corrigir erros. Como no caso da privatização dos Aeroportos do Galeão (RJ) e de Confins (MG), em que ela insistia em fazer da Infraero sócia majoritária, ingenuamente acreditando que empresas operadoras de grandes aeroportos do mundo correriam a trazer sua experiência para o Brasil na condição de sócias minoritárias e sob as ordens da Infraero - empresa alvo de investigações da CPI do Apagão aéreo. Dilma chegou a enviar ao exterior missão chefiada pela ex-ministra Gleisi Hoffmann para consultar as maiores operadoras de aeroportos. Todas recusaram. Dilma acabou se rendendo à realidade porque a Copa do Mundo estava à porta e os dois aeroportos precisavam de obras.
Por enquanto, só há incertezas para os próximos quatro anos. Dos brasileiros e dela.
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