O GLOBO - 18/10
O truque já foi usado uma vez, recentemente, e não funcionou, ao tentarem fazer da presidente Dilma uma coitadinha quando foi vaiada na abertura da Copa do Mundo no Itaquerão. Nada indica que funcionará desta vez. Transformar a presidente Dilma em uma senhora delicada que foi tratada com grosseria por seu adversário Aécio Neves no debate do SBT, na quinta-feira, não é um relato fiel do que aconteceu, nem faz jus à história da presidente e do PT. Beira o ridículo.
O mal-estar da presidente ao final do debate pode ter sido provocado pelo calor da discussão e do estúdio de televisão, e prenuncia uma fragilidade emocional dela, conhecida por seu vigor verbal, digamos assim. Ontem, Dilma, antes de adiar uma vinda ao Rio "a conselho médico" que depois foi desmentido, disse algo como "o PT não é de briga, mas sabe enfrentar desafios". Nada menos verdadeiro.
Ao contrário, o PT só sabe fazer política na base do confronto, precisa de um inimigo para mobilizar seus militantes, que andam meio desanimados ultimamente. Esse clima de guerra permanente foi instalado pelo PT no país, que não sabe fazer política sem radicalizar. A prática do "nós contra eles", aprofundada nesta campanha com uma tentativa de jogar o PSDB contra os nordestinos, acaba levando a exacerbações.
Na ocasião da abertura da Copa, escrevi que a grosseria é um problema nosso, de uma sociedade que precisa encontrar novamente o caminho da civilidade e da convivência pacífica entre os contrários. A vaia é um problema da presidente Dilma e do PT. Naquela ocasião, a presidente Dilma passou a ser tratada como uma senhora frágil e desacostumada a essa linguagem, quando ela própria já demonstrou, em reuniões com ministros e empresários, que sabe lidar com esse tipo de problema. Que o digam os ministros que já saíram chorando de seu gabinete depois de uma boa espinafração, muitas vezes com uso de palavras nada convencionais.
O ex-presidente Lula voltou a tentar o truque depois do debate da Bandeirantes, dizendo que, "quando eu vejo um homem na televisão ser ignorante com uma mulher, como ele tem sido nos debates, eu fico pensando: se esse cidadão é capaz de gritar com a presidenta, fico imaginando o dia que ele encontrar um pobre na frente: é capaz de ele pisar ou não enxergar".
Lula, evidentemente, está fazendo baixa política, sem muita chance de dar certo. A própria presidente Dilma não dá razão para esse tratamento condescendente com ela, pois, quando soube que a ex- candidata Marina Silva havia chorado ao ser atacada pela propaganda petista, saiu-se com esse comentário: "um presidente da República tem de resistir à pressão".
Em discurso dirigido a movimentos negros em Nova Lima, na Região Metropolitana de Belo Horizonte, Dilma afirmou que quem não quer ser criticado "não pode ser presidente".
- Um presidente da República sofre pressão 24 horas por dia. Se a pessoa não quer ser pressionada, não quer ser criticada, não quer que falem dela, não dá para ser presidente da República. Acho que, (para) ser presidente, a gente tem que aguentar a barra - disse Dilma.
Se a vitimização de Marina não teve sucesso, e ela só reagiu à altura dos ataques muito tempo depois, quando sua votação já se esvaía, agora o candidato do PSDB, Aécio Neves, está enfrentando de frente os mesmos ataques, o que coloca um dado novo na disputa presidencial. Na verdade, Aécio é o primeiro candidato tucano que enfrenta o PT sem receios, resgatando o legado de Fernando Henrique Cardoso e exorcizando de vez a demonização que o PT vem fazendo dos governos tucanos pelos últimos 12 anos.
Tanto Serra quanto Alckmin entraram na disputa contra o PT com receio de se indispor com Lula e seus seguidores, e tiveram dificuldades para defender as políticas do PSDB, quando não evitaram simplesmente temas polêmicos como as privatizações. A postura de Aécio Neves já mostrou que há um projeto político para enfrentar o lulismo, e defendê-lo não tira votos.
O mal-estar da presidente ao final do debate pode ter sido provocado pelo calor da discussão e do estúdio de televisão, e prenuncia uma fragilidade emocional dela, conhecida por seu vigor verbal, digamos assim. Ontem, Dilma, antes de adiar uma vinda ao Rio "a conselho médico" que depois foi desmentido, disse algo como "o PT não é de briga, mas sabe enfrentar desafios". Nada menos verdadeiro.
Ao contrário, o PT só sabe fazer política na base do confronto, precisa de um inimigo para mobilizar seus militantes, que andam meio desanimados ultimamente. Esse clima de guerra permanente foi instalado pelo PT no país, que não sabe fazer política sem radicalizar. A prática do "nós contra eles", aprofundada nesta campanha com uma tentativa de jogar o PSDB contra os nordestinos, acaba levando a exacerbações.
Na ocasião da abertura da Copa, escrevi que a grosseria é um problema nosso, de uma sociedade que precisa encontrar novamente o caminho da civilidade e da convivência pacífica entre os contrários. A vaia é um problema da presidente Dilma e do PT. Naquela ocasião, a presidente Dilma passou a ser tratada como uma senhora frágil e desacostumada a essa linguagem, quando ela própria já demonstrou, em reuniões com ministros e empresários, que sabe lidar com esse tipo de problema. Que o digam os ministros que já saíram chorando de seu gabinete depois de uma boa espinafração, muitas vezes com uso de palavras nada convencionais.
O ex-presidente Lula voltou a tentar o truque depois do debate da Bandeirantes, dizendo que, "quando eu vejo um homem na televisão ser ignorante com uma mulher, como ele tem sido nos debates, eu fico pensando: se esse cidadão é capaz de gritar com a presidenta, fico imaginando o dia que ele encontrar um pobre na frente: é capaz de ele pisar ou não enxergar".
Lula, evidentemente, está fazendo baixa política, sem muita chance de dar certo. A própria presidente Dilma não dá razão para esse tratamento condescendente com ela, pois, quando soube que a ex- candidata Marina Silva havia chorado ao ser atacada pela propaganda petista, saiu-se com esse comentário: "um presidente da República tem de resistir à pressão".
Em discurso dirigido a movimentos negros em Nova Lima, na Região Metropolitana de Belo Horizonte, Dilma afirmou que quem não quer ser criticado "não pode ser presidente".
- Um presidente da República sofre pressão 24 horas por dia. Se a pessoa não quer ser pressionada, não quer ser criticada, não quer que falem dela, não dá para ser presidente da República. Acho que, (para) ser presidente, a gente tem que aguentar a barra - disse Dilma.
Se a vitimização de Marina não teve sucesso, e ela só reagiu à altura dos ataques muito tempo depois, quando sua votação já se esvaía, agora o candidato do PSDB, Aécio Neves, está enfrentando de frente os mesmos ataques, o que coloca um dado novo na disputa presidencial. Na verdade, Aécio é o primeiro candidato tucano que enfrenta o PT sem receios, resgatando o legado de Fernando Henrique Cardoso e exorcizando de vez a demonização que o PT vem fazendo dos governos tucanos pelos últimos 12 anos.
Tanto Serra quanto Alckmin entraram na disputa contra o PT com receio de se indispor com Lula e seus seguidores, e tiveram dificuldades para defender as políticas do PSDB, quando não evitaram simplesmente temas polêmicos como as privatizações. A postura de Aécio Neves já mostrou que há um projeto político para enfrentar o lulismo, e defendê-lo não tira votos.
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