O GLOBO - 18/10
TSE tem de evitar que desandem os embates entre candidatos e a propaganda política, depois que se firmou a ideia de que adversário é para ser desconstruído
A marquetagem da campanha da candidata-presidente Dilma Rousseff já se exercitava nos chamados golpes abaixo da linha da cintura contra Marina Silva. A relação pessoal e política da candidata do PSB com a herdeira do Itaú-Unibanco Neca Setúbal foi apresentada como prova da subordinação de Marina ao “capital financeiro”, assim como sua proposta de autonomia do Banco Central virou evidência de que os “bancos” mandariam em seu hipotético governo, com o consequente sumiço de comida da “mesa do pobre".
Como todo panfleto embebido em ideologia anacrônica, eram mensagens até bizarras. Mas, embaladas em filmetes produzidos com os mais modernos truques digitais — financiados pelo caixa de campanha abastecido também por bancos —, essas mentiras torpes ganharam ares de denúncias. Sem tirar méritos da campanha de Aécio Neves, a derrota de Marina na disputa com o tucano para enfrentar Dilma no turno final foi mais uma vitória das táticas de “desconstrução” de candidatos.
Tanto se fez que a beligerância contaminou o primeiro debate da fase final das eleições, quinta-feira, no SBT. A renovação das acusações de nepotismo a Aécio, assessorado no governo de Minas pela irmã Andreia, teve o troco na pergunta a Dilma sobre a nomeação também de um irmão, Igor, na prefeitura de Belo Horizonte, na gestão do petista Fernando Pimentel, exemplo lapidar de “nepotismo cruzado”.
Houve, ainda, a tentativa de exploração de um teste de Lei Seca que Aécio se recusou a fazer no Rio. Não se tem notícia, desde o confronto Collor-Lula, em 1989, de um debate tão violento.
A degradação da qualidade ética da propaganda eleitoral justifica a intervenção do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Seu presidente, ministro Dias Toffoli, desde o primeiro turno defende a reformulação do chamado horário gratuito, para que dele sejam eliminadas as trucagens. Toffoli chega a propor sua realização ao vivo, com candidatos apresentando propostas e debatendo programas.
Na quinta, o TSE baixou normas para que os programas eleitorais sejam propositivos, sem depoimentos de terceiros e reproduções de reportagens da imprensa. A decisão saiu do julgamento de uma reclamação do PSDB contra propaganda do PT em que Aécio é acusado por sindicalista de cercear a imprensa mineira no seu tempo de governador.
Cabe recordar que a primeira vítima desses golpes foi o próprio PT, na campanha de 89, quando o comitê de Collor colocou no ar a mãe da filha de Lula acusando-o de tê-la pressionado a não deixar nascer a menina. Foi chocante, mas aquela trapaça fez escola, e o TSE precisará de muita firmeza para evitar que a campanha de 2014 desça a ladeira de vez.
Enquanto isso, a economia continua estagnada, a inflação nas alturas e pouco ou nada se fala de como o país poderá sair desse labirinto em 2015 sem pagar alto preço.
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