O ESTADÃO - 27/10
Escrevo este artigo antes da abertura das urnas. Mas o tom do segundo turno, marcado por intensa participação da sociedade, sobretudo na internet, transmite um forte recado aos políticos. A eleição despertou algo que estava adormecido na alma dos brasileiros: o exercício da cidadania. O povo percebeu, finalmente, que os governantes são representantes da sociedade, mas não são donos do poder. Assistimos ao estertor dos feudos da opinião pública. Daqui para a frente, com crescente intensidade, os políticos serão cobrados e confrontados. Felizmente. Além disso, os brasileiros, mesmo os que foram seduzidos pelo rolo compressor do marketing político, não estão dispostos a renunciar aos valores que compõem a essência da nossa história: a paixão pela liberdade, a defesa da dignidade humana e a prática da tolerância.
Um país não pode se apresentar como democrático e livre se pedir à imprensa que não reverbere os problemas do país. O governo petista frequentemente manifestou insatisfação com o trabalho da imprensa. Para o PT, lamentavelmente, jornalismo bom é o que fala bem. Jornalismo que apura e opina com isenção incomoda, irrita e provoca azia. Está, na visão de seu líder, Luiz Inácio Lula da Silva, a serviço da “elite brasileira”. Reconheço, no entanto, que Lula, Dilma e seus companheiros não são críticos solitários da mídia. Políticos, habitualmente, não morrem de amores pelo trabalho dos jornalistas.
A simples leitura dos jornais oferece um quadro assustador do cinismo que se instalou na entranha do poder. O que fazer quando um ex-presidente da República faz graça com a corrupção e incinera a ética no forno do pragmatismo e da suposta governabilidade? O que fazer quando políticos se lixam para a opinião pública? Só há um caminho: informação livre e independente. Não se constrói um grande país com mentira, casuísmos e esperteza. Edifica-se uma grande nação, sim, com o respeito à lei e à ética. A transparência informativa, de que os políticos não gostam, representa o elemento essencial de renovação do Brasil.
Mas o recado mais forte, claro e nítido, foi o do repúdio à intolerância. A agressividade de Dilma e de Lula e seus destemperos verbais também empurraram a eleição para o segundo turno. A radicalização ideológica não tem a cara do brasileiro. O PT tenta dividir o Brasil ao meio. Jogar pobres contra ricos, negros contra brancos, homos contra héteros. Quer substituir o Brasil da alegria pelo país do ódio e da divisão. Tenta arrancar com o fórceps da luta de classes o espírito mágico dos brasileiros. Procura extirpar o DNA, a alma de um povo bom, aberto e multicolorido. Não quer o Brasil café com leite. A miscigenação, riqueza maior da nossa cultura, evapora nos rarefeitos laboratórios arianos do radicalismo petista.
Assistimos ao surgimento, de forma acelerada e preocupante, de uma nova “democracia” totalitária e ditatorial, que pretende espoliar milhões de cidadãos do direito fundamental de opinar, elemento essencial da democracia. Se a ditadura politicamente correta constrange a cidadania, não pode, por óbvio, acuar jornalistas e redações. O primeiro mandamento do jornalismo de qualidade é a independência. Não podemos sucumbir às pressões dos lobbies direitistas, esquerdistas, homossexuais ou raciais. O Brasil eliminou a censura. E só há um desvio pior que o controle governamental da informação: a autocensura. Para o jornalismo não há vetos, tabus e proibições. Informar é um dever ético. E ninguém impedirá o cumprimento do primeiro mandamento da nossa profissão: transmitir a verdade dos fatos.
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