FOLHA DE SP - 27/10
Reeleita por pequena margem, presidente deve desanuviar o ambiente político e atender a expectativas de mudança
Numa disputa milimétrica, que galvanizou a atenção --e as emoções-- da maioria dos brasileiros durante o início da noite de ontem (26), Dilma Rousseff (PT) foi reeleita presidente da República.
O resultado apertado não se reproduziu, contudo, em todas as unidades da Federação. Nos Estados do Sul e em São Paulo, Aécio Neves (PSDB) levou larga vantagem, enquanto a petista teve amplo apoio no Norte e no Nordeste.
As diferenças regionais e sociais entre os apoiadores de um e outro candidato não têm como abolir, de qualquer modo, um fato essencial: à presidente da República cabe governar o conjunto do país.
Não serão pequenos os desafios políticos e administrativos que estão à frente. Nada pior do que imaginar, dada a estreita margem a garantir a vitória petista, que se tenha concedido uma carta branca ao comportamento e à gestão de Dilma Rousseff até aqui.
Ao mesmo tempo em que as urnas expressam o desejo de continuidade dos programas sociais, uma profunda expectativa de mudança de rumos não pode ser descartada da equação de poder.
A economia necessita de ajustes, e a necessidade de uma equipe nova, capaz de reconfigurar o diálogo entre o Planalto e os setores produtivos, impõe-se com clareza.
A reforma política passou, desde os últimos momentos da campanha, a ser admitida como prioridade pela presidente --ao que tudo indica para efeito retórico.
Externamente, as relações com o Congresso e com os poderes regionais se tornam mais delicadas do que nunca; mas, ao mesmo tempo, uma composição partidária esfacelada no Legislativo e um quadro em que o PSDB sai vencedor em Estados importantes aumentam os anteparos ao poder federal.
No curtíssimo prazo, cumpre dissipar o clima de confronto e sectarismo que marcou as últimas semanas da vida política brasileira.
Sinal inequívoco do clima de radicalização deste final de campanha, o ataque realizado por uma minoria de militantes contra a sede da revista "Veja", em São Paulo, suscita firme repúdio e fundamentadas preocupações.
Não foi este o único arranhão que se infligiu à liberdade de imprensa. Numa decisão monocrática e questionável --ainda mais porque partiu de um ex-advogado da campanha de Dilma em 2010--, o ministro Admar Gonzaga impôs, sobre a mesma revista semanal, a obrigação de conceder direito de resposta à coligação do PT por noticiar fatos desfavoráveis aos interesses da candidatura.
Proibiu, ademais, a divulgação de publicidade da revista, na interpretação de que constituiria uma forma de propaganda eleitoral disfarçada, numa decisão sem dúvida inconstitucional.
Se, nesses casos, o calor eleitoral predominou sobre a institucionalidade democrática, abre-se agora uma fase de reconciliação e, sobretudo, de reconstrução administrativa, política e econômica.
Que a presidente Dilma Rousseff, eleita para governar por mais quatro anos, tenha sorte, talento e humildade para levá-la adiante.
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