Infelizmente, a lógica da campanha e o formato dos programas de rádio e televisão não permitem debates mais profundos em termos teóricos e técnicos
As teorias econômicas destinam-se a explicar o funcionamento do sistema econômico. A política econômica é o meio pelo qual o governo interfere no funcionamento do sistema e é dividida em pelo menos quatro grandes partes: a política fiscal, que compreende a estrutura de tributação e a forma como o governo gasta o dinheiro arrecadado; a política monetária, que trata da administração da moeda, do juro e do crédito; a política cambial, que responde pela administração do preço das moedas estrangeiras e das regras de relação financeira com o resto do mundo; e a política de intervenção, referente à administração de preços e à regulação do mercado e do setor privado.
Por definição, o governo é uma entidade econômica que não produz. Inicialmente, o único meio de que o governo dispõe para financiar (pagar) a máquina do Estado e o conjunto de serviços públicos é apropriando-se (pela tributação) de parte da renda nacional. Adicionalmente, o governo pode gastar mais do que arrecada, o que o leva a se socorrer de duas saídas possíveis: tomar empréstimos (fazer dívida pública) e/ou emitir moeda. Outro meio pelo qual o governo pode obter receita é montar empresas estatais com dinheiro dos impostos e usar as receitas dessas empresas para sustentar os gastos públicos. Porém, na maioria das vezes, as empresas estatais são mais sorvedouros de dinheiro do que provedoras de recursos para o tesouro nacional.
De um lado existe o Produto Interno Bruto (PIB) e, de outro, a renda nacional, cujos valores são rigorosamente iguais. O PIB e a renda são apenas os dois lados da mesma moeda. O PIB é composto por duas fatias apenas, os bens e serviços de consumo e os bens de capital. A renda nacional é a soma de salários, juros, aluguéis e lucros. Esse quadro fecha o grande tabuleiro da economia sobre o qual o governo deve atuar na tentativa de conseguir as quatro grandes metas: o crescimento do PIB, o aumento do emprego, o controle da inflação e a distribuição da renda.
Em época de eleições, um dos principais debates (se não o principal) deveria ser como cada candidato pretende atuar sobre esse grande tabuleiro, seus programas e suas políticas. Infelizmente, o debate econômico tem se resumido à apresentação de um extenso rosário de promessas e benefícios em favor do povo, cuja razão está na tentativa de conquistar o maior número de votos, sem maiores considerações sobre temas técnicos como viabilidade, gestão e eficiência. Os candidatos procuram se apresentar mais como arautos da bondade social do que como portadores das teorias certas e políticas adequadas para o progresso do país.
Vale ressaltar que a lógica da campanha e o formato dos programas eleitorais no rádio e na televisão não permitem debates mais profundos em termos teóricos e de melhor conteúdo técnico. Apesar disso, é lamentável que a discussão sobre como os candidatos pretendem atuar sobre o grande tabuleiro econômico, essencial para o desenvolvimento, fique à margem e, quando muito, seja abordada de maneira superficial.
Uma vez no governo, o vencedor da eleição será mais ou menos eficiente muito mais em função de sua política econômica do que em função das medidas para cumprir suas promessas de bondade feitas durante a campanha. A própria presidente Dilma Rousseff, candidata à reeleição, está diante dos custos políticos de uma série de indicadores ruins na economia, situação que tem levado preocupação a seus assessores de marketing eleitoral.
A economia é área complexa e a realidade tem a mania de mostrar que certas medidas boas para solucionar problemas de curto prazo acabam se transformando em problemas no longo prazo. Um exemplo é a elevação da demanda agregada por meio do aumento do consumo das pessoas a qualquer custo. O Brasil fez isso – o que ajudou a conter os efeitos da crise mundial iniciada em 2007 – e as pessoas entraram em uma onda de consumo movido a crédito farto e juro alto, o que acabou desaguando numa crise de endividamento e aumento da inadimplência. A conta chegou e o quadro se inverteu, sendo esse um dos fatores responsáveis pelo baixo crescimento econômico dos últimos dois anos.
Agora é que a campanha eleitoral começa de fato (retardada em alguns dias por causa da morte trágica do candidato Eduardo Campos), oportunidade em que a população poderá cobrar dos postulantes que apresentem suas ideias e planos, e não fiquem apenas nas velhas promessas assistencialistas.
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