Campanhas somarão R$ 72 bilhões, conforme previsões dos concorrentes. Mais de duas vezes o gasto prometido para a Copa
A conhecida frase de Magalhães Pinto, ex-banqueiro e parlamentar mineiro, permanece atual: “Política é como nuvem.” De fato, a cada olhar, enxerga-se um novo formato. Até a semana passada, o filme seria o já visto nas cinco últimas eleições presidenciais, com o PT e o PSDB no duelo final. A dúvida era se Dilma venceria no primeiro turno. A morte de Eduardo Campos viabilizou a terceira via e o segundo turno, no qual Marina Silva (PSB) passou a ser favorita.
Independentemente do desfecho imprevisível, 25.366 cidadãos irão concorrer às vagas de deputados estaduais e federais, senadores, governadores e presidente da República. Curiosamente, três candidatos já passaram dos 90 anos. Estão no páreo, por exemplo, 2.321 empresários, 1.481 professores, 1.386 advogados, 544 policiais, 23 motoboys, 21 garis, cem sacerdotes, oito artistas de circo e dois coveiros. Ao que parece, Tiririca deixou legado.
O interesse em servir à sociedade — ou servir-se dela, como fazem alguns — envolve ricos e pobres. Nas declarações de bens encontram-se 63 aeronaves e 216 embarcações. De um jato, adquirido por R$ 7,5 milhões, a um bote inflável de R$ 462. De duas Ferraris a um burro. Cerca de dez mil candidatos não informaram patrimônio. Como as declarações de bens entregues no registro das candidaturas não são cruzadas com as do Imposto de Renda — o que deveria ocorrer — é provável que a Justiça Eleitoral e o Leão tenham informações diferentes.
A partir de hoje, quando começar o horário eleitoral, estarão disputando votos pretendentes com nomes curiosos como Hora do Rango, Cachorrão, Chiclete, Chupa Cabra, Cição Bandido, Barack Obama, Mister M, Filho do Padre, Eu te Amo e Bagunça. O último, se eleito, vai se sentir em casa.
As campanhas somarão R$ 72 bilhões, conforme previsões dos concorrentes. O valor corresponde a mais de duas vezes o gasto prometido para a Copa 2014, incluindo as obras de mobilidade urbana, aeroportos, estádios, turismo e segurança pública. Desde 1965, a lei eleitoral prevê a possibilidade de o Legislativo fixar tetos para as campanhas, o que nunca ocorreu. Para os partidos políticos, candidatos e doadores, aparentemente, quanto mais dinheiro, melhor.
Tal como acontece há várias eleições, os maiores doadores têm relações com o governo federal. A maior empresa de proteína animal do mundo, a JBS (Friboi), lidera as doações. A caridade somou R$ 53,3 milhões, distribuídos para nove partidos. O grupo recebeu R$ 12,8 bilhões do BNDES, de 2002 a 2012. Por mero espírito democrático, doou R$ 5 milhões para a campanha de Dilma e valor idêntico para a de Aécio. O PSB recebeu apenas R$ 370 mil, por enquanto.
A promessa do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) de acabar com as doações ocultas não se concretizou. As doações continuam sendo feitas em grande parte aos comitês, diretórios e aos partidos. Posteriormente, quando do repasse aos candidatos, frequentemente não são identificados os doadores originais. Assim foi na primeira prestação de contas dos três então principais candidatos à Presidência da República, mau exemplo de transparência.
As regras eleitorais contêm aberrações, a começar pelo favorecimento descarado aos que concorrem exercendo mandatos de deputado, senador, governador e presidente da República. Até estas eleições, as “autoridades” fingiam desempenhar as funções públicas durante o dia e se dedicar às campanhas somente na hora do almoço, à noite e nos fins de semana. Agora, o que se vê é a caça de votos durante o expediente, com entrevistas nos palácios, lançamentos de planos e concessão de incentivos às vésperas do pleito, às barbas do TSE. O que já era ruim, piorou.
As cartas estão na mesa nas eleições presidenciais, com reflexos nas estaduais. A favor de Dilma, 15 pontos percentuais à frente, segundo o Datafolha, quase 12 minutos na televisão e Lula como cabo eleitoral para mostrar o que o partido fez em 12 anos. Aécio e Marina vão lembrar a inflação alta, o crescimento pífio do PIB e os escândalos da Petrobras. O mineiro confiará na polarização PT/PSDB e na sua vida política. A segunda, ungida como sucessora de Campos, contará com o fator emocional e o seu peso eleitoral elevado fruto do “recall” das eleições de 2010. Todos com os pés na estrada para conquistar os 24 milhões de eleitores indecisos e que pretendem anular ou votar em branco. Sem falar no “volta Lula”...
Enfim, se a política é como nuvem, ninguém poderá prever o “clima” nos dias 5 e 26 de outubro. Nem os cientistas políticos, tampouco os meteorologistas.
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