CORREIO BRAZILIENSE - 31/07
Em outubro de 2013 - portanto, menos de um ano atrás -, relatório do Fundo Monetário Internacional (FMI) sobre a estabilidade financeira global apontava o Brasil como exemplo para outros países emergentes. Segundo o documento, a casa estava "em ordem", pronta para os desafios de uma economia mundial em transição. Até houve elogios à disposição do Banco Central brasileiro de elevar as taxas de juros. É fato que também não faltaram ressalvas. Uma delas, a necessidade de reforçar os mecanismos de resistência.
Nove meses depois, o FMI coloca o Brasil no saco de países emergentes mais vulneráveis a uma piora da economia global, com a África do Sul, a Argentina, a Índia, a Indonésia, a Rússia e a Turquia. O que teria mudado tanto nesse curto espaço de tempo? A instituição critica o baixo crescimento. Não há o que contestar. Afinal, a expansão do PIB este ano deve ficar abaixo de 1%. Outro problema persistente é a inflação, que deve chegar ao fim de 2014 em torno do teto da meta, fixado em 6,5%, sem contar a pressão contida dos preços administrados pelo governo, que em hora próxima terão de ser reajustados.
PIB rateando e preços em ascensão bastam para definir a deterioração do quadro macroeconômico. Mas o ministro da Fazenda, Guido Mantega, prefere desmerecer o relatório do FMI - segundo ele, produzido por escalações inferiores e recheado de velhos equívocos. Na reação, cita dados positivos, como a manutenção, pelo quarto ano consecutivo, dos investimentos estrangeiros diretos em patamar superior a US$ 60 bilhões em 12 meses. Acrescenta que o real valorizou-se 9,4% no primeiro semestre deste ano e que a Bolsa de Valores de São Paulo subiu 21,25% no mesmo período. Poderia, ainda, ter calçado as críticas ao fundo com números da oferta de emprego e da melhoria da renda no país, embora o ritmo desses avanços tenha perdido ímpeto.
Por fim, o ministro, numa apelação suprema, poderia questionar a coincidência de a instituição ter colocado no mesmo saco Brasil, África do Sul, Índia e Rússia, que, somados à China, formam o Brics, grupo que acaba de aprovar a criação de um fundo para reduzir a dependência dos emergentes em relação ao FMI. Não chegou a tanto. Mas melhor seria se admitisse outros graves poréns da economia brasileira, como as baixas taxas de investimento e de poupança interna, a infraestrutura incipiente, os gastos públicos exacerbados, as reformas (sobretudo, a tributária) sempre adiadas e por aí afora. Melhor, ainda, se respondesse com equilíbrio fiscal capaz de tornar inquebrantável a confiança no país.
Sem o devido eco, o sinal aceso pelo FMI corre o risco de ser, ao contrário, um fator a mais de desestabilização, usado apenas contra o país, instrumento de manipulação para especuladores internacionais. Ainda mais em cenário de acirrada disputa política, com a presidente da República empenhada em reeleger-se. Portanto, é bom pôr de lado o discurso eleitoreiro e cuidar de arrumar a casa. Afinal, se tudo estivesse realmente bem, com crescimento econômico e social sustentáveis, seria dispensável qualquer tentativa de desacreditar o fundo, e Dilma Rousseff dificilmente teria a reeleição em risco.
Nove meses depois, o FMI coloca o Brasil no saco de países emergentes mais vulneráveis a uma piora da economia global, com a África do Sul, a Argentina, a Índia, a Indonésia, a Rússia e a Turquia. O que teria mudado tanto nesse curto espaço de tempo? A instituição critica o baixo crescimento. Não há o que contestar. Afinal, a expansão do PIB este ano deve ficar abaixo de 1%. Outro problema persistente é a inflação, que deve chegar ao fim de 2014 em torno do teto da meta, fixado em 6,5%, sem contar a pressão contida dos preços administrados pelo governo, que em hora próxima terão de ser reajustados.
PIB rateando e preços em ascensão bastam para definir a deterioração do quadro macroeconômico. Mas o ministro da Fazenda, Guido Mantega, prefere desmerecer o relatório do FMI - segundo ele, produzido por escalações inferiores e recheado de velhos equívocos. Na reação, cita dados positivos, como a manutenção, pelo quarto ano consecutivo, dos investimentos estrangeiros diretos em patamar superior a US$ 60 bilhões em 12 meses. Acrescenta que o real valorizou-se 9,4% no primeiro semestre deste ano e que a Bolsa de Valores de São Paulo subiu 21,25% no mesmo período. Poderia, ainda, ter calçado as críticas ao fundo com números da oferta de emprego e da melhoria da renda no país, embora o ritmo desses avanços tenha perdido ímpeto.
Por fim, o ministro, numa apelação suprema, poderia questionar a coincidência de a instituição ter colocado no mesmo saco Brasil, África do Sul, Índia e Rússia, que, somados à China, formam o Brics, grupo que acaba de aprovar a criação de um fundo para reduzir a dependência dos emergentes em relação ao FMI. Não chegou a tanto. Mas melhor seria se admitisse outros graves poréns da economia brasileira, como as baixas taxas de investimento e de poupança interna, a infraestrutura incipiente, os gastos públicos exacerbados, as reformas (sobretudo, a tributária) sempre adiadas e por aí afora. Melhor, ainda, se respondesse com equilíbrio fiscal capaz de tornar inquebrantável a confiança no país.
Sem o devido eco, o sinal aceso pelo FMI corre o risco de ser, ao contrário, um fator a mais de desestabilização, usado apenas contra o país, instrumento de manipulação para especuladores internacionais. Ainda mais em cenário de acirrada disputa política, com a presidente da República empenhada em reeleger-se. Portanto, é bom pôr de lado o discurso eleitoreiro e cuidar de arrumar a casa. Afinal, se tudo estivesse realmente bem, com crescimento econômico e social sustentáveis, seria dispensável qualquer tentativa de desacreditar o fundo, e Dilma Rousseff dificilmente teria a reeleição em risco.
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