O GLOBO - 18/07
Há expressiva desaceleração no ritmo da atividade econômica, que já se reflete na geração de empregos formais, e por isso nova alta nas taxas de juros foi desconsiderada
O Comitê de Política Monetária decidiu na quarta-feira manter as taxas básicas de juros em 11% ao ano, embora a trajetória da inflação ainda desperte preocupações. Os alimentos deram uma trégua, mas há outros segmentos que não param de encarecer, como é o caso dos serviços, que, em média, estão custando mais 9% em relação a um ano atrás, enquanto o índice de inflação registra uma variação de 6,52% acumulada nos últimos doze meses, 0,02 acima do limite máximo da meta de 4,5%.
O receituário de combate à inflação recomendaria nova elevação das taxas básicas de juros, mas, quando se observam os demais indicadores da economia, há uma conjuntura de expressiva desaceleração que pode até desembocar em recessão. O número de empregos formais gerados em junho, em preparação final e início da Copa, se resumiu a 25.3636, com queda de 79,5% em relação a igual mês de 2013. Essa retração se deve especialmente ao desempenho da indústria. Segundo levantamento da Fiesp, a Federação das Indústrias do Estado de São Paulo, 16 mil trabalhadores perderam os empregos no setor no ente federativo mais industrializado do país. Com essa queda no ritmo da atividade econômica, a terapia dos juros altos poderia agravar a situação da indústria e do comércio, pois o consumo de bens duráveis depende basicamente do crédito. No entanto, o patamar perigoso em que se encontra a inflação não permite que as autoridades cruzem os braços.
O recado do Banco Central é que a política monetária já faz sua parte, mas o recuo da inflação, sem que a economia caia em um quadro recessivo, depende também de outros instrumentos de que o governo dispõe. E o mais contundente de todos é a política fiscal. Em maio, o setor público apresentou um estrondoso déficit primário, uma temeridade nas condições econômicas atuais. Não é de agora que a equipe econômica do governo vem anunciando uma maior contribuição da política fiscal para o combate à inflação, que, na prática, não se materializa.
Há torneiras abertas nos gastos públicos que não se justificam tecnicamente, como, por exemplo, a que arca com o chamado seguro-desemprego. A economia brasileira já não tem gerado tantos empregos formais, mas, mesmo que houvesse uma demanda maior por mão de obra, não haveria pessoas disponíveis em número suficiente para ocupar esses novos postos. Está claro que há um desemprego voluntário; não são poucos os que preferem permanecer na informalidade enquanto usufruem do benefício, na certeza que terão quem os contrate quando se encerrar o prazo de seis meses em que podem permanecer desempregados. Neste período, gozam de um benefício indexado ao salário mínimo, reajustado acima da evolução da produtividade. Tais regras já deveriam ter sido ajustadas para a realidade do mercado brasileiro de trabalho. Mas isso não ocorre por temor do impacto negativo que a iniciativa poderia ter junto a um potencial eleitorado do governo de Dilma. Empurra-se o problema para a frente.
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