O GLOBO - 03/06
O desentendimento entre Paulo Skaf, o candidato do PMDB ao governo de São Paulo, e a presidente Dilma Rousseff é reflexo da geleia geral em que se transformou a política partidária no Brasil. A presidente, em reunião com o PMDB em Brasília, procurou atrair Skaf para sua candidatura à reeleição, colocando-o como mais uma opção para derrotar o PSDB além do candidato do PT Alexandre Padilha.
Quem deveria ficar magoado com a declaração seria Padilha ou o PT. Mas não, foi Skaf quem correu para esclarecer que, em São Paulo, ele é candidato de oposição ao PT tanto quanto ao PSDB, recusando assim a possibilidade de que Dilma tenha um palanque duplo no estado.
O presidente da Fiesp tomou a atitude para definir uma posição que lhe dá bastante conforto, caso vá para o 2º turno: se contra o PT, receberá votos dos antipetistas; se contra o PSDB, é a escolha obrigatória dos petistas para impedir que os tucanos continuem no poder.
Mas há também um cálculo eleitoral nessa recusa do palanque para Dilma: Skaf não quer se contaminar com o desprestígio que detecta no governo federal. A exemplo do candidato à Presidência da República Eduardo Campos, do PSB, Skaf quer ser a alternativa à polarização entre PT e PSDB em São Paulo e, pelo menos na teoria, está em melhor situação que Campos.
Aparece nas pesquisas em segundo lugar, bem à frente de Padilha. Nessa situação, o que menos quer é aproximação com Dilma, apoiada por seu partido para a Presidência da República.
Situação inversa acontece com Campos: o PSB deve acabar fazendo um acordo político com o PSDB em São Paulo, entrando na chapa de reeleição de Geraldo Alckmin, mas se recusou a manter o acordo com os tucanos nos demais estados em que ele estava sendo negociado, notadamente Minas Gerais e Pernambuco.
Já o PSD de Geraldo Kassab deve aderir à candidatura de Alckmin em São Paulo, mas não abre mão do apoio a Dilma para a Presidência da República, dando-lhe seus minutos de propaganda como gesto de gratidão pelo apoio que recebeu na formação do partido.
Com isso, inviabiliza o movimento para que o ex-presidente do Banco Central Henrique Meirelles venha a ser o vice do senador Aécio Neves, o que seria uma derrota direta do ex-presidente Lula. Meirelles, eleito deputado federal pelo PSDB em 2002, passou os oito anos do governo Lula à frente do BC, tornando-se um dos símbolos de seu governo, mesmo que em determinado momento Lula tenha pensado em trocá-lo.
Dilma terá o dobro de tempo de TV que o segundo colocado, Aécio Neves, do PSDB, mas não terá o apoio integral dos dez partidos que formam sua aliança. No Rio, Aécio tem uma aliança informal maior talvez que a formalizada pelos partidos da base aliada do governo Cabral-Pezão, que oficialmente a apoiam.
Isso acontece porque, segundo o cientista político Sérgio Abranches, o governo está em uma fase de ambivalência , tendo perdido sua força centrípeta, que é a fase em que é plenamente dominante. O presidente, com alta popularidade e liderança plenamente assegurada, consegue preservar o núcleo do governo com relativa facilidade, com o poder relativamente compartilhado e a rivalidade entre os parceiros da coalizão se dá dentro dos limites do negociável.
Essa força de atração, diz Abranches, começa a arrefecer em situações de crises de corrupção que atinjam o núcleo central do governo e a própria Presidência, ou reversão negativa do crescimento econômico, particularmente com alta da inflação e queda da renda real.
Nesse processo, o regime muda de fase, passando à fase de ambivalência , que é onde estamos na avaliação de Abranches. Nessa, o sinal positivo da Presidência é fraco, regular , pouco indicativo do grau de apoio que ela de fato terá dos eleitores. A rivalidade entre os parceiros passa a afetar o núcleo central do governo .
Se esse momento não for revertido por mudança significativa no ambiente político-econômico, adverte Abranches, o regime tende a mudar de fase, entrando na fase centrífuga . Nessa, a Presidência passa a ter sinal negativo. A popularidade cai de tal modo que a popularidade líquida (positivo - negativo) fica negativa e o regular não passa dos 20%. A liderança presidencial é contestada, da mesma forma que o núcleo central do governo. Há paralisia decisória e legislativa, levando o sistema para uma crise de governança.
Quem deveria ficar magoado com a declaração seria Padilha ou o PT. Mas não, foi Skaf quem correu para esclarecer que, em São Paulo, ele é candidato de oposição ao PT tanto quanto ao PSDB, recusando assim a possibilidade de que Dilma tenha um palanque duplo no estado.
O presidente da Fiesp tomou a atitude para definir uma posição que lhe dá bastante conforto, caso vá para o 2º turno: se contra o PT, receberá votos dos antipetistas; se contra o PSDB, é a escolha obrigatória dos petistas para impedir que os tucanos continuem no poder.
Mas há também um cálculo eleitoral nessa recusa do palanque para Dilma: Skaf não quer se contaminar com o desprestígio que detecta no governo federal. A exemplo do candidato à Presidência da República Eduardo Campos, do PSB, Skaf quer ser a alternativa à polarização entre PT e PSDB em São Paulo e, pelo menos na teoria, está em melhor situação que Campos.
Aparece nas pesquisas em segundo lugar, bem à frente de Padilha. Nessa situação, o que menos quer é aproximação com Dilma, apoiada por seu partido para a Presidência da República.
Situação inversa acontece com Campos: o PSB deve acabar fazendo um acordo político com o PSDB em São Paulo, entrando na chapa de reeleição de Geraldo Alckmin, mas se recusou a manter o acordo com os tucanos nos demais estados em que ele estava sendo negociado, notadamente Minas Gerais e Pernambuco.
Já o PSD de Geraldo Kassab deve aderir à candidatura de Alckmin em São Paulo, mas não abre mão do apoio a Dilma para a Presidência da República, dando-lhe seus minutos de propaganda como gesto de gratidão pelo apoio que recebeu na formação do partido.
Com isso, inviabiliza o movimento para que o ex-presidente do Banco Central Henrique Meirelles venha a ser o vice do senador Aécio Neves, o que seria uma derrota direta do ex-presidente Lula. Meirelles, eleito deputado federal pelo PSDB em 2002, passou os oito anos do governo Lula à frente do BC, tornando-se um dos símbolos de seu governo, mesmo que em determinado momento Lula tenha pensado em trocá-lo.
Dilma terá o dobro de tempo de TV que o segundo colocado, Aécio Neves, do PSDB, mas não terá o apoio integral dos dez partidos que formam sua aliança. No Rio, Aécio tem uma aliança informal maior talvez que a formalizada pelos partidos da base aliada do governo Cabral-Pezão, que oficialmente a apoiam.
Isso acontece porque, segundo o cientista político Sérgio Abranches, o governo está em uma fase de ambivalência , tendo perdido sua força centrípeta, que é a fase em que é plenamente dominante. O presidente, com alta popularidade e liderança plenamente assegurada, consegue preservar o núcleo do governo com relativa facilidade, com o poder relativamente compartilhado e a rivalidade entre os parceiros da coalizão se dá dentro dos limites do negociável.
Essa força de atração, diz Abranches, começa a arrefecer em situações de crises de corrupção que atinjam o núcleo central do governo e a própria Presidência, ou reversão negativa do crescimento econômico, particularmente com alta da inflação e queda da renda real.
Nesse processo, o regime muda de fase, passando à fase de ambivalência , que é onde estamos na avaliação de Abranches. Nessa, o sinal positivo da Presidência é fraco, regular , pouco indicativo do grau de apoio que ela de fato terá dos eleitores. A rivalidade entre os parceiros passa a afetar o núcleo central do governo .
Se esse momento não for revertido por mudança significativa no ambiente político-econômico, adverte Abranches, o regime tende a mudar de fase, entrando na fase centrífuga . Nessa, a Presidência passa a ter sinal negativo. A popularidade cai de tal modo que a popularidade líquida (positivo - negativo) fica negativa e o regular não passa dos 20%. A liderança presidencial é contestada, da mesma forma que o núcleo central do governo. Há paralisia decisória e legislativa, levando o sistema para uma crise de governança.
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