O GLOBO - 10/06
Os números do setor de máquinas são o reflexo do freio dos investimentos no país. De janeiro a abril deste ano, o consumo aparente, que contabiliza a produção nacional vendida internamente mais as importações, caiu 8,2% e foi o menor dos últimos dois anos. A carteira de pedidos está mais baixa do que em 2009, no auge da crise internacional. AAbimaq projeta fechar o ano com uma retração de dois dígitos.
0presidente da Abimaq, Carlos Pastoriza, explica que a indústria de máquinas e equipamentos representa 50% da Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF), o indicador do IBGE que mede os investimentos. Nos quatro primeiros meses do ano, o faturamento interno do setor caiu 20% sobre o mesmo período de 2013. Ao mesmo tempo, as importações encolheram 5%. Os dois números juntos mostram que as empresas brasileiras compraram menos máquinas, sejam elas fabricadas aqui ou não (vejam no gráfico).
— A indústria de máquinas como um todo fechou 2012 com queda de 2,7%. No ano passado, o tombo foi maior, de 5,7%. Para este ano, projetamos uma retração que chega a dois dígitos, entre 10% e 15%. Será o terceiro ano seguido de queda. Estamos em recessão — afirmou Carlos Pastoriza.
A utilização do parque industrial de máquinas está em 75% este ano, segundo a Abimaq, abaixo do mesmo período de 2009, que era de 80%. A carteira de pedidos está em 3,2 meses, também menor que os 4,4 daquele ano. Os números são ruins e há pouca expectativa de melhora até dezembro.
— Há três semanas houve a realização da maior feira no país da indústria metal-mecânica, em São Paulo. Houve relatos de associados de que esse foi o pior evento nos últimos 20 anos, com um volume de negócios 30% menor. Não há apetite para investir — disse.
O economista Armando Castelar, do Ibre/FGV, espera uma nova retração dos investimentos no PIB do segundo trimestre, depois de três quedas consecutivas. Ele lembra que a produção de bens de capital caiu 0,5% em abril, pelo dado divulgado pelo IBGE, e que as incertezas para o resto do ano continuam: preços represados, risco de racionamento, inflação alta, crédito mais caro e redução do consumo:
— Acredito que o PIB ficará estagnado no segundo trimestre, com risco de ser negativo. Para o ano, crescerá apenas 1%. Há muitas incertezas para serem resolvidas em 2015.
Países ricos vão às compras
Em meio a vários números ruins, a Abimaq comemora o forte aumento das exportações para os EUA e a Europa. As vendas de máquinas e equipamentos para os americanos, de janeiro a abril, cresceram 76%, de US$ 678 milhões para US$ 1,19 bi. Para os europeus, aumento de 36%. Segundo Carlos Pastoriza, presidente da entidade, os dados mostram que as duas regiões continuam em recuperação e puxam o setor no mundo. Já as exportações do Brasil para a Argentina, em crise, caíram 13,4% no mesmo período.
IPCA: acima do teto antes da eleição
A pesquisa Focus divulgada ontem pelo Banco Central mostrou que a previsão do mercado é de inflação de 0,36% em junho e 0,28% em julho. Com isso, a taxa acumulada em 12 meses subiria para 6,47% e 6,72%, respectivamente, estourando o teto da meta (6,5%). O índice de julho será divulgado no dia 8 de agosto, a dois meses das eleições. No dia 29 do mesmo mês, sai o PIB do segundo trimestre, que será baixo. Há risco até de retração.
ENQUANTO ISSO, NO MÉXICO
A inflação brasileira passa de 6%, mas, no México, a taxa anual foi de 3,5% em maio. Na última sexta-feira, o BC mexicano surpreendeu com um corte de juros para 3%, o menor nível já
registrado. A surpresa aconteceu porque inflação de 3,5%, lá, é considerada alta pelo mercado, já que a meta é 3%, com tolerância de apenas um ponto.
Nenhum comentário:
Postar um comentário