O GLOBO - 27/05
O consenso é que os juros vão parar de subir na reunião do Copom esta semana e, se olharmos para trás, de fato, o período de aperto monetário foi longo. Durante um ano a Selic subiu, numa alta acumulada de 3,75 pontos percentuais. O problema é que, apesar disso, o impacto na inflação foi mínimo, qualquer que seja a forma que se olhe. Ela permanece alta e perto do teto da meta.
Isso não quer dizer que os juros não fizeram efeito. O risco era de que taxa fugisse ao controle se nada fosse feito naquela época. O acumulado em 12 meses estava subindo e havia risco de que ficasse cada vez maior. Nem só de ação do BC vive a política contra a inflação. Outras medidas poderiam ter sido tomadas. Mas o risco maior era espalhar-se a convicção de que a autoridade monetária estava impedida de agir.
Ao mesmo tempo, o governo continuou ampliando gastos e passando a informação de que havia apenas uma frente verdadeira de luta contra a inflação: a da política monetária. Nas outras frentes, o que o governo tem feito é manter preços artificiais de energia e de combustíveis, que acabam alimentando a expectativa de alta futura da inflação.
A interrupção do ciclo de aperto monetário neste momento pode ser defendido por vários argumentos. Primeiro, a alta acumulada em todo esse tempo continuará fazendo efeito no futuro; segundo, esse é o começo de um período de redução da pressão inflacionária vindo dos alimentos; terceiro, há vários sinais de que o nível de atividade está em desaceleração.
A maioria das previsões do PIB do primeiro trimestre está entre 0,2% e 0,3% o que vai significar desaceleração em relação ao último trimestre de 2013. Em qualquer medida é uma indicação de PIB muito fraco.
O gráfico abaixo mostra que a elevação da taxa de juros reverteu a curva de escalada inflacionária, apesar de não ter conseguido fazê-la convergir para o centro da meta, o que era inicialmente a promessa.
Declarações de autoridades dizendo que a inflação está superestimada, ou suspeitas de que podem ser feitas mudanças nos índices, só pioram o clima. Se algo nessa linha for feito será um tiro no pé, porque o Brasil parecerá ainda mais com a Argentina, ou com seu próprio passado, em que os índices eram alterados quando não entregavam a taxa que o governo queria.
Com a entrada do período em que a inflação de alimentos fica mais suave, o governo vai dizer que tudo era questão de sazonalidade e que o problema está resolvido.
Não está. Na verdade, é bem possível que a inflação em 12 meses continue aumentando, apesar de o índice mensal ser cada vez menor nos próximos meses. Depois virá o período em que os alimentos voltam a subir mais fortemente. Então de agora até o fim do ano, a taxa provavelmente vai estourar o teto e, depois, voltará a ficar abaixo de 6,5%, mas não cairá o suficiente.
Além disso, continuará pairando sobre a economia o temor dos preços represados de energia elétrica e combustíveis. Em algum momento eles terão que ser corrigidos, até porque é impossível continuar subsidiando os preços ao custo de desequilíbrio financeiro nas empresas de geração e distribuição de energia, redução do lucro da Petrobras e piora das contas externas.
O fato é que um ano após o começo da elevação da taxa de juros, a inflação permanece incomodando, as expectativas econômicas pioraram, e o PIB está tendo um baixo desempenho. É até natural que o Banco Central pare agora de elevar as taxas de juros para esperar seu efeito sobre a inflação. O problema é não saber, até o momento, quando o governo terá uma política eficiente contra a inflação.
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