O GLOBO - 27/05
A conexão ideológica entre marxismo e nacional-socialismo não é fruto de fantasia, e Hitler mesmo leu Marx atentamente quando vivia em Munique
‘Nós exigimos que o Estado especialmente se encarregará de garantir que todos os cidadãos tenham a possibilidade de viver decentemente e recebam um sustento”; “nenhum indivíduo fará qualquer trabalho que atente contra o interesse da comunidade para o benefício de todos”;
“Que toda renda não merecida, e toda renda que não venha de trabalho, seja abolida”; “nós exigimos a nacionalização de todos os grupos investidores”; nós exigimos participação dos lucros em grandes indústrias”;
“Nós exigimos a criação e manutenção de uma classe média sadia, a imediata socialização de grandes depósitos que serão vendidos a baixo custo para pequenos varejistas, e a consideração mais forte deve ser dada para assegurar que pequenos vendedores entreguem os suprimentos necessários aos Estados, às províncias e municipalidades”;
“Nós exigimos uma reforma agrária de acordo com nossas necessidades nacionais, e a oficialização de uma lei para expropriar os proprietários sem compensação de quaisquer terras necessárias para propósito comum. A abolição de arrendamentos de terra, e a proibição de toda especulação na terra”;
“A fim de executar este programa, nós exigimos: a criação de uma autoridade central forte no Estado, a autoridade incondicional pelo Parlamento político central de todo o Estado e todas as suas organizações.”
O leitor tem alguma ideia de onde saíram essas coisas? Talvez de algum manual esquerdista revolucionário? Ou então de um manifesto socialista qualquer, quem sabe? Nada disso. Esses são alguns dos 25 itens do programa do Partido dos Trabalhadores Nacional-Socialista Alemão, mais conhecido como Nazista, de 1920, que levaria Hitler ao poder poucos anos depois.
Agora pergunto: há alguma semelhança com a doutrina liberal? Para quem conhece o mínimo sobre o liberalismo, a resposta é um retumbante “não”. O liberalismo prega justamente a redução de poder do Estado, para poder garantir mais liberdade aos indivíduos. Garante a propriedade privada, enxerga o lucro como o oxigênio saudável que permite novos investimentos, levando ao aumento da riqueza geral. Por fim, cobra a responsabilidade individual também.
Não existem duas ideologias mais díspares do que nazismo e liberalismo. Mas não é o que pensam os organizadores de um concurso público da CespeUnB, feito pela Secretaria de Estado de Ciência, Tecnologia e Inovação do Governo do Distrito Federal. O governador, como sabemos, é o petista Agnelo Queiroz. Na prova, havia a afirmação, considerada correta pelo gabarito, de que o nazismo era um movimento político e ideológico “baseado no nacionalismo, no racismo, no totalitarismo, no anticomunismo e no liberalismo econômico e político”.
Em meu dicionário, isso se chama doutrinação ideológica. Que nas redes sociais os militantes petistas apelem para aquilo que ficou conhecido como argumentum ad Hitlerum, ou seja, enfiar Hitler em qualquer discussão com um liberal, vá lá; mas que um concurso oficial do governo repita essa patética mentira, associando nazismo a liberalismo, isso é ultrajante!
Tanto o nazismo como o marxismo, ao contrário do cético liberalismo, compartilharam o desejo de remodelar a humanidade. Marx defendia a “alteração dos homens em grande escala”, e Hitler pregou “a vontade de recriar a humanidade”. Nazistas e socialistas não eram, na prática e no ideal coletivista, tão diferentes assim. Basta trocar raça por classe e teremos duas ideologias parecidas.
A conexão ideológica entre marxismo e nacional-socialismo não é fruto de fantasia, e Hitler mesmo leu Marx atentamente quando vivia em Munique, tendo enaltecido depois sua influência no nazismo. Sua meta era socializar o homem, e a propriedade privada, pilar básico do liberalismo, foi abolida de facto, como na União Soviética. Stalin e Hitler se parecem muito, enquanto Hitler e Thatcher ou Hitler e Reagan não têm nada a ver.
É verdade que os nazistas perseguiram comunistas. Mas irmãos brigam pelo poder! Os nazistas perseguiram todos, principalmente os liberais. E comunistas se mataram entre si. Basta lembrar de Trotski. Por acaso isso faz de Stalin um anticomunista?
Para quem quiser se aprofundar no tema, recomendo o documentário “The Soviet Story”, que mostra vários traços comuns entre ambos os regimes nefastos. Contra tanto o comunismo como o nazismo, sempre haverá o liberalismo. Portanto, da próxima vez que o leitor ouvir algum esquerdista acusando um liberal de nazista, saiba que se trata ou de um embusteiro ou de um ignorante. Liberais e nazistas não se misturam, tal como água e óleo.
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