CORREIO BRAZILIENSE - 10/05
Ninguém, muito menos o governo, deve se entusiasmar com a inflação de abril. Os preços dos alimentos subiram menos do que em março, mas ainda pesam muito no orçamento da maioria das famílias, especialmente nas de média e baixa renda. Subiram 1,19% em média, com forte contribuição de produtos que ainda passam por temporada de baixa oferta, como as batatas.
De qualquer modo, foi a desaceleração da corrida dos preços da comida e dos transportes que influenciou o aumento menos explosivo do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), que é a medida oficial de inflação, feita pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Ele tinha assustado até mesmo os mais pessimistas, com uma alta de 0,92% em março. Em abril ficou em 0,67%.
É bem menor, mas ajuda pouco para diminuir a preocupação que ainda se deve ter com o índice acumulado, o que realmente conta. No ano, incluindo os números de abril, o IPCA teve variação de 2,86%; em 12 meses, de 6,28%. Está perigosamente perto do teto de 6,5% e longe demais do centro (4,5%) da meta de inflação estabelecida pelo Conselho Monetário Nacional para 2014.
Quanto mais altos forem os índices nos primeiros meses, mais difícil fica o cumprimento da meta no fim do ano. Em 2014, para que a alta dos preços não ultrapasse o teto - o que seria uma sinalização muito negativa para os agentes econômicos nacionais e para o mercado internacional de crédito - será preciso que, ao longo dos próximos sete ou oito meses, o IPCA tenha evolução bem mais contida do que a do primeiro quadrimestre.
Essa não parece ser a tendência, pois nada garante que a desaceleração dos aumentos em abril será mantida. Pelo contrário. Há uma coleção de indicadores que recomendam manter o otimismo na gaveta. O principal deles é o efeito em cascata do aumento das tarifas de energia elétrica. Como o governo não conseguiu tirar do papel em tempo hábil o aumento da oferta de geração hidrelétrica (para o que colaboraram a tumultuada mudança na vigência das concessões e a precipitada redução das tarifas em 2012), a escassez de chuva tem causado estragos.
Em vez de adotar medidas de contenção do consumo de energia, o governo estimulou a compra de eletrodomésticos e manteve um discurso de que tudo corria bem no setor elétrico. Para bancar essa fantasia até depois das eleições, foi preciso manter ligadas por mais tempo que o de costume as usinas térmicas. A energia gerada por elas é muito mais cara, e o custo disso alimenta a inflação.
A Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) já autorizou aumentos de tarifa que vão do dobro ao triplo da inflação do ano passado (5,91%). Como os aumentos não foram concedidos todos de uma vez, só uma pequena parte do impacto foi registrada em abril. A partir de maio, todas as cadeias produtivas afetadas pela conta de luz vão influir na formação do IPCA.
Só há razão, portanto, para que o governo não se deixe envolver pelas pressões do calendário eleitoral e segure o gasto público. Se não fizer isso, vai deixar o Banco Central sozinho na luta contra a inflação e, portanto, sem mais alternativa que a indesejável elevação dos juros.
De qualquer modo, foi a desaceleração da corrida dos preços da comida e dos transportes que influenciou o aumento menos explosivo do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), que é a medida oficial de inflação, feita pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Ele tinha assustado até mesmo os mais pessimistas, com uma alta de 0,92% em março. Em abril ficou em 0,67%.
É bem menor, mas ajuda pouco para diminuir a preocupação que ainda se deve ter com o índice acumulado, o que realmente conta. No ano, incluindo os números de abril, o IPCA teve variação de 2,86%; em 12 meses, de 6,28%. Está perigosamente perto do teto de 6,5% e longe demais do centro (4,5%) da meta de inflação estabelecida pelo Conselho Monetário Nacional para 2014.
Quanto mais altos forem os índices nos primeiros meses, mais difícil fica o cumprimento da meta no fim do ano. Em 2014, para que a alta dos preços não ultrapasse o teto - o que seria uma sinalização muito negativa para os agentes econômicos nacionais e para o mercado internacional de crédito - será preciso que, ao longo dos próximos sete ou oito meses, o IPCA tenha evolução bem mais contida do que a do primeiro quadrimestre.
Essa não parece ser a tendência, pois nada garante que a desaceleração dos aumentos em abril será mantida. Pelo contrário. Há uma coleção de indicadores que recomendam manter o otimismo na gaveta. O principal deles é o efeito em cascata do aumento das tarifas de energia elétrica. Como o governo não conseguiu tirar do papel em tempo hábil o aumento da oferta de geração hidrelétrica (para o que colaboraram a tumultuada mudança na vigência das concessões e a precipitada redução das tarifas em 2012), a escassez de chuva tem causado estragos.
Em vez de adotar medidas de contenção do consumo de energia, o governo estimulou a compra de eletrodomésticos e manteve um discurso de que tudo corria bem no setor elétrico. Para bancar essa fantasia até depois das eleições, foi preciso manter ligadas por mais tempo que o de costume as usinas térmicas. A energia gerada por elas é muito mais cara, e o custo disso alimenta a inflação.
A Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) já autorizou aumentos de tarifa que vão do dobro ao triplo da inflação do ano passado (5,91%). Como os aumentos não foram concedidos todos de uma vez, só uma pequena parte do impacto foi registrada em abril. A partir de maio, todas as cadeias produtivas afetadas pela conta de luz vão influir na formação do IPCA.
Só há razão, portanto, para que o governo não se deixe envolver pelas pressões do calendário eleitoral e segure o gasto público. Se não fizer isso, vai deixar o Banco Central sozinho na luta contra a inflação e, portanto, sem mais alternativa que a indesejável elevação dos juros.
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