FOLHA DE SP - 10/05
Forte desejo por mudanças, registrado em pesquisa do Datafolha, ainda não se incorpora nas candidaturas à Presidência da República
Feitas as ressalvas de praxe --tudo pode mudar depois da Copa e do horário eleitoral--, os resultados da última pesquisa Datafolha acrescentam alguma nitidez aos prognósticos quanto à disputa pela Presidência da República.
Restam poucas dúvidas, mesmo entre os adeptos de Dilma Rousseff, de que a eleição terá um segundo turno. No quadro mais provável, a petista tem 37% das intenções de voto; os demais candidatos, somados, chegam a 38%.
A notícia já vinha sendo assimilada pelos estrategistas de campanha pelo menos desde a queda de popularidade da presidente após as manifestações de junho passado. Chega a ser paradoxalmente auspicioso, do ponto de vista do Planalto, que não se tenha aprofundado o descrédito de Dilma.
Numa conjuntura escassa em boas notícias, a popularidade da petista se manteve praticamente estável entre os primeiros dias de abril, quando se fez o levantamento anterior, e esta semana: passou dos 36% de "ótimo" e "bom" naquela ocasião para os 35% de agora --dentro da margem de erro.
O impacto das revelações sobre a Petrobras --a depender do que venha a ser descoberto por uma ainda frágil CPI-- parece provisoriamente absorvido. Tem a contrabalançá-lo, ademais, a adoção, pelos petistas, de conduta mais incisiva nas relações públicas.
Aumentou, com efeito, a disposição presidencial para apresentar-se em ocasiões amenas. Ao mesmo tempo, o encontro nacional de seu partido teve efeito decisivo para suspender especulações em torno de uma possível substituição de Dilma por Lula, seu sempre popular mentor.
Se os dados do Datafolha não se mostram ruins para Dilma, dada a atual conjuntura, revelam-se bastante bons para Aécio Neves. O candidato do PSDB se destaca de Eduardo Campos (PSB) por uma diferença de nove pontos percentuais, alcançando 20% das preferências do eleitorado (eram 16% na pesquisa de abril).
O fenômeno coincide com sua maior exposição na propaganda e no noticiário; no Senado, Aécio soube aproveitar os ruinosos contratos da Petrobras para fortalecer-se como alternativa à situação.
Ainda assim, o desejo de mudança presente em 74% dos entrevistados não se reflete numa adesão às propostas, de resto vagas ou desconhecidas, da oposição. Basta notar que, para 38% do eleitorado, ninguém menos do que Lula seria o nome mais indicado para alterar os rumos do governo.
Um oposicionismo à procura de oposicionistas, um situacionismo pouco satisfeito com a situação, estes parecem ser os sentimentos prevalecentes no eleitorado.
Não espanta que, como nunca, a inclinação para votar nulo ou em branco se verifique na população. O sufrágio obrigatório, combinado com a propaganda eleitoral, sustenta em boa medida a esperança de candidatos que, por si próprios, não chegam a empolgar ninguém.
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