FOLHA DE SP - 14/05
BRASÍLIA - O eleitor vota quase sempre movido por dois sentimentos, o medo ou a esperança. Às vezes, a combinação de ambos.
O PT colocou ontem no ar um comercial de um minuto nos intervalos das TVs abertas. Explora o discurso do medo. Pessoas são mostradas vendo a si próprias num passado recente quando não tinham acesso a emprego, escola, saúde e lazer. Ao fundo, uma música de apelo fúnebre.
"Não podemos deixar que os fantasmas do passado voltem e levem tudo que conseguimos com tanto esforço", diz o locutor. "Nosso emprego de hoje não pode voltar a ser o desemprego de ontem. Não podemos dar ouvidos a falsas promessas. O Brasil não quer voltar atrás".
Em resumo, diz o PT, sem a reeleição de Dilma Rousseff virá o caos. A narrativa é clássica. Visa a inocular o pânico em quem teve alguma melhora de vida. A presidente necessita estancar a erosão em sua popularidade e assegurar o núcleo duro de seu eleitorado, na faixa de 30% a 35%. Desse rebanho não pode fugir nem mais uma ovelha. Daí a escolha do tom quase de velório do comercial veiculado ontem à noite.
Vai funcionar? Difícil saber. João Santana, o marqueteiro dilmista, não usaria um filme sem testá-lo antes.
Em eleições passadas, a estratégia do medo foi muito usada. Em 1998, o jingle de FHC falava de um "mundo turbulento" e de um Brasil que não podia parar. Parar com quem? Com Lula, que era o adversário. Deu certo.
Em 2002, José Serra levou a atriz Regina Duarte à TV dizendo que estava com medo. Lula rebateu com o "a esperança vai vencer o medo". Deu PT. Em 2006 e 2010, os petistas jogaram com o medo do fim do Bolsa Família. Ganharam tudo.
Agora é a vez de Dilma. A propaganda de ontem tem chuva cenográfica e uma imagem com textura de cinema. Parece um daqueles filmes bíblicos de Franco Zeffirelli. Talvez um pouco triste demais para quem também precisa vender esperança.
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