FOLHA DE SP - 03/04
BRASÍLIA - A democracia avança no Brasil, lenta e gradualmente, e anda para trás na Venezuela, célere e gravemente.
No Brasil, mesmo com enorme atraso em relação à Argentina, ao Uruguai, ao Chile..., a Comissão da Verdade tem exposto fatos e depoimentos impressionantes e as Forças Armadas, que jamais admitiram a tortura, criam comissões de sindicâncias para investigar essa prática em instalações militares. Decisão inédita e de grande significado.
Com a sua índole pacífica e no seu próprio ritmo, o Brasil vai aos poucos tornando oficial aquilo que todos já sabíamos por livros, entrevistas, alguns documentos. É, efetivamente, um reencontro com a sua história.
Mais cedo ou mais tarde, haverá a revisão da Lei da Anistia, que, compactuada entre os dois lados, impede até hoje processos, condenações e penas para agentes que torturaram, mataram e ocultaram cadáveres de opositores que, desarmados, estavam sob a custódia do Estado.
Mas não será tão já e a voz de comando partiu da presidente da República e comandante em chefe das Forças Armadas, Dilma Rousseff, ao defender os "pactos políticos" -leia-se a Lei da Anistia. Carregando, ela mesma, as marcas da tortura e das prisões, Dilma está, sabiamente, monitorando a oportunidade.
É de se supor que a revisão da Lei da Anistia virá, mas quando os responsáveis hierárquicos ou diretos pela tortura já estiverem em sua maioria mortos. Será uma manifestação simbólica, uma satisfação à história despojada de objetivo prático.
E a Venezuela? Jornais fecham por falta de papel, políticos são sumariamente cassados, manifestantes são presos, o número de mortos só cresce e a guerra extrapola fronteiras, com Maduro falando aos "povos" e a oposição cobrando os governos.
"Quantos mais assassinados para que os democratas do hemisfério escutem nossa voz?", indagou a deputada cassada Maria Corina, ontem, em Brasília. Quem vai responder?
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