O Estado de S.Paulo - 09/04
Num mundo em que a produção e o consumo são globalizados, o nome do jogo é competitividade. E como um país torna sua produção competitiva? O fator crucial se chama produtividade, ou seja, tirar dos fatores de produção o melhor rendimento por unidade aplicada. Assim, ao entrar no jogo, o objetivo é produzir mais e melhor ao menor custo. Os fatores de produção capital, recursos naturais e recursos humanos devem se combinar da forma mais eficiente num dado nível de desenvolvimento tecnológico. Como a tecnologia permeia as funções de produção e sua evolução tem uma dinâmica cada vez mais veloz, se o uso dos fatores de produção não a acompanham, compromete-se o potencial de desenvolvimento.
As vantagens competitivas de um país dependem, portanto, da disponibilidade dos fatores de produção, associada à capacidade de inovação por meio de novas tecnologias. Em países ou regiões menos desenvolvidos, o capital é o fator escasso, os recursos humanos são abundantes - mas com baixo nível de qualificação - e os recursos naturais podem ou não representar um ativo relevante. A natureza pode não ser favorável, mas com alta qualificação de seus habitantes e capacidade inovadora pode-se atingir altos níveis de renda. Assim, por exemplo, a Coreia do Sul, país pobre em recursos naturais e com população pouco maior, gera o dobro do PIB da Argentina, país abençoado pela natureza e com um povo razoavelmente culto. Ocorre que, para a Coreia, produtividade, inovação, qualificação do fator humano e alto desempenho das infraestruturas fazem parte do seu perfil competitivo.
E o Brasil, como se sai neste jogo? Na partida, temos três vantagens importantes: extensão continental, amplo mercado consumidor e natureza ainda pródiga, apesar de séculos de ocupação predatória, desmatamentos e poluição das águas. Dá para se sair bem no agronegócio e em alguns segmentos industriais, pela incorporação de tecnologias avançadas e pela reconhecida capacidade empresarial. Mas, ao longo do jogo, constata-se a dificuldade na chegada, pois as infraestruturas necessárias para dar suporte ao desenvolvimento são obsoletas, insuficientes ou degradadas. Os recursos humanos qualificados são escassos, enquanto os sem qualificação são abundantes e não atendem aos requisitos de uma economia moderna. É muito baixa a capacidade de inovar e gerar conhecimento, pela escassez de centros de pesquisa e de universidades de relevo.
Por outro lado, a capacidade empresarial, embora potente, depara-se a todo tempo com grandes obstáculos: carga tributária irracional e extorsiva; escassez de mão de obra adequada; inflação que distorce custos; insegurança jurídica; e assédio de agentes públicos corruptos. Como quem gera a riqueza de um país são o trabalho e o empreendedorismo, nossa participação no jogo da competitividade já fica comprometida antes de vislumbrar o final. A preservação da indigência educacional, que avilta o trabalhador, e do sistema tributário, que inibe o empreendedor, reduz consideravelmente as vantagens do início do jogo. Os níveis de produtividade da atividade econômica são muito baixos, salvo honrosas exceções de praxe. É difícil de reverter esse quadro a curto e a médio prazos, principalmente quando o País se deixa levar só pelo oportunismo de novas dependências e por políticas públicas imediatistas, sem visão estratégica.
O mais grave, por fim, é o inevitável declínio da credibilidade do País, associado a esse quadro. Num momento em que precisamos de investimentos, qualquer investidor olha com desconfiança um país onde se vislumbram descontrole das contas públicas; inflação ficando fora de controle; tribunais onde a justiça tarda, falha e gera insegurança; um Congresso incapaz de se debruçar sobre as grandes questões; além de um mal-estar social pairando no ar. É muita areia para este caminhão chamado Brasil, obsoleto, vacilante, sem rumo e já dando mostras de fadiga do material.
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