A campanha do "volta Lula", nascida dentro do PT, quer vender a ideia de que o ex-presidente geriu melhor a economia e o país e que Dilma, por suas falhas e escolhas, teria feito uma má administração. A verdade é que a atual presidente herdou, manteve e, algumas vezes, aprofundou erros como a leniência com a inflação, uso partidário de estatais, desmonte das agências reguladoras.
O governo Lula subestimou a crise de 2008 e produziu uma bolha no PIB, em 2010, para eleger Dilma. Houve aumento do gasto público, o início da escalada do uso dos bancos estatais e das transferências para o BNDES, a utilização político-eleitoral da Petrobras. O PIB de 7,5% e a Petrobras foram parte da campanha para a continuação do PT no poder.
O número de 2010 aumentou a média estatística do PIB do período Lula, mas nenhuma mudança estrutural foi feita para mudar o país e remover os gargalos. Os PACs, e a forma de esconder os atrasos mudando as datas das obras, nasceram no governo Lula sob o comando de Dilma. Ela herdou o cargo e problemas para resolver. Preferiu negá-los ou escondê-los na contabilidade criativa.
O governo Dilma começou com a inflação acelerada, que chegou a 7,7% em poucos meses, em função do crescimento forçado para elegê-la. A escolha pelo caminho de leniência com as contas públicas havia começado antes e foi mantido. Dilma agiu como a cara-metade do presidente ao detonar a proposta de déficit nominal zero feita pelo então ministro Antonio Palocci. Do Palácio do Planalto, já acomodada na cadeira do ex-ministro José Dirceu, Dilma disparou a palavra rudimentar para fulminar o projeto de ajuste fiscal.
Se tivesse sido implementada a tal rudimentar proposta de buscar o déficit nominal zero, o país estaria mais bem preparado para enfrentar a crise externa, que começou em 2008, e o aumento do gasto para evitar a recessão não teria provocado todos os efeitos colaterais que produziu.
Houve uma mudança de política econômica dentro do governo Lula e a escolha foi mantida pela atual presidente. Os primeiros anos foram de reformas e mudanças microeconômicas para aumentar a eficiência da economia. Essa agenda foi adotada por Lula para superar o medo de que ele iria destruir a herança da estabilização da economia se seguisse as propostas dos economistas do partido. Com economistas não partidários, o primeiro mandato de Lula venceu as desconfianças e reduziu a inflação, que havia subido exatamente pelo medo das decisões que poderia tomar.
Foi com Lula que as agências reguladoras - com raras exceções - foram politizadas e passaram a obedecer as ordens dos ministros da vez. Ele ocupou com indicações políticas a Petrobras e outras estatais. Foi sob sua Presidência, e com Dilma como braço-direito, que foram fechados negócios como a compra da refinaria Pasadena; a construção da refinaria Abreu e Lima para ajudar o companheiro Hugo Chávez. Foram os dois que reinauguraram a política dos campeões nacionais que tanto dinheiro transferiu para alguns dos grupos escolhidos.
Lula é melhor no palanque, é mais convincente se disser que foi enganado por um relatório mal feito, que assinou sem ler. Em Dilma, a desculpa não cai bem. Mas não há entre eles duas propostas econômicas, duas formas de lidar com os gastos públicos, com os bancos estatais, com as empresas do governo e as agências reguladoras. Também não há uma Dilma faxineira e um Lula aloprado sob o qual ocorreu o mensalão. Casos mal explicados e escolhas desastradas aconteceram nos dois governos. Os dois são um a cara-metade do outro. O que o partido debate nesse volta Lula é desempenho eleitoral: quem teria mais chance de mantê-lo no poder.
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