GAZETA DO POVO - PR - 01/04
Elevar o padrão de bem-estar de toda a população é um objetivo nacional importante, uma meta com a qual concordam governo e sociedade. Em um país com as características do Brasil, isso significa aumentar o Produto Interno Bruto (PIB) a taxas superiores ao crescimento populacional, melhorar a distribuição da renda, retirar da pobreza os 20% mais pobres da população, melhorar os níveis educacionais, elevar o padrão de assistência à saúde e criar uma rede de proteção social aos que não conseguem sustentar a si mesmos (caso dos desempregados, dos inválidos e dos idosos sem renda).
Ainda que haja divergências quanto aos caminhos para alcançar o objetivo, há consenso sobre os principais males a combater: o baixo crescimento do PIB, a inflação e o desemprego. O fraco avanço do PIB por si só dificulta a geração de empregos e, se persistir, provoca desemprego mais adiante. Como a população brasileira cresce em torno de 2,2 milhões de habitantes por ano, a luta pelo aumento do PIB é objetivo de todos os agentes sociais. A presidente Dilma consignou em seu plano de governo que dois de seus principais objetivos seriam o crescimento econômico e o programa “Brasil sem Miséria”, porque a presidente entendeu que esse é o rumo desejado por todo o país. Quanto à inflação, somente por seu potencial de corroer o poder de compra e de empobrecer a todos, em especial os que vivem da renda do trabalho, o combate constante a esse mal é prioridade sobre a qual não se discute. Além disso, a inflação causa outras consequências negativas, como inibir os investimentos privados nacionais e estrangeiros, jogando contra o crescimento do PIB e do emprego.
Após eleita, Dilma anotou, de próprio punho, em seu plano de governo que uma de suas metas seria elevar a taxa de investimentos como proporção do PIB, atualmente em 18%. Os investimentos totais do país em infraestrutura física, empresarial e social deveriam ser elevados para 25% do PIB, como meio de viabilizar o crescimento do PIB em 5% ao ano de forma constante. Olhando em retrospecto, o plano da presidente no momento de sua posse estava no rumo certo; é difícil achar quem discorde de suas pretensões. Os problemas e as divergências começaram a aparecer nas políticas específicas necessárias para o país atingir o objetivo de elevar o padrão médio de bem-estar social, com eliminação da miséria e redução da pobreza. Nesse ponto começaram as diferenças entre o caminho escolhido por Lula e o caminho escolhido por Dilma, este último denominado “a nova matriz macroeconômica”.
A tal “nova matriz” de Dilma é baseada em juros mais baixos, câmbio mais desvalorizado em relação ao dólar e superávit primário conforme as necessidades da economia; ou seja, o superávit deve cair quando o governo julgar necessário aumentar as desonerações tributárias e deve subir quando achar recomendável reduzir a aceleração da demanda. Na visão do governo Dilma, o tripé adotado por Lula – superávit primário, câmbio flutuante e meta de inflação – estava adequado aos rumos da economia na primeira década deste século, mas seria inadequado ao mundo (e ao Brasil) depois da grave crise de 2007/2008.
Se hoje o humor dos mercados melhora quando a presidente cai nas pesquisas de popularidade, é o caso de examinar onde estão os erros de Dilma e de sua política econômica. Uma das explicações está naquilo que autores consagrados – como Adam Smith, Karl Marx e Friedrich von Hayek – avaliaram como sendo “as consequências não intencionais da ação humana”. No momento em que a realidade social é examinada e determinada política é traçada para enfrentá-la, as medidas definidas podem parecer corretas. Entretanto, nos sistemas abertos (como é o caso da economia nacional) e em um mundo globalizado, o cenário muda, turbulências aparecem e as políticas de outras nações podem pôr a perder políticas internas inicialmente corretas.
A piora da situação da China, a queda na demanda mundial por commodities e a crise europeia estão entre os fatores que contribuíram para provocar furos na política econômica do atual governo brasileiro. A mudança na política dos Estados Unidos – que passaram a atrair dólares do mundo em alta escala – e os tropeços na gestão econômica do ministro da Fazenda se somaram aos problemas internacionais, como resultado, a “nova matriz macroeconômica” não funcionou. A dúvida é: se ganhar as eleições, Dilma vai mudar de rota?
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