É inegável o estresse no setor de energia; governo deve ao país um diagnóstico claro e um plano apropriado para enfrentar cenário adverso
São raros os observadores ponderados do setor elétrico que admitem abertamente a possibilidade de um racionamento a partir de meados deste ano. Aumenta, porém, o número daqueles que podem modificar sua opinião em abril, quando termina o período de chuvas no centro-sul do país.
Começa a se tornar mais comum a recomendação de que as autoridades elaborem planos de poupança de eletricidade.
A situação de estresse é inegável. Todas as usinas termelétricas, caras, estão em funcionamento. O recurso de tal monta a essas fontes complementares indica que a oferta de energia está no limite. Quer dizer, é preciso preservar os reservatórios das hidrelétricas a fim de que o país atravesse sem mais sobressaltos o período da estiagem.
Os preços de curto prazo da eletricidade --e, portanto, no mercado livre-- estão no pico. Empresas de distribuição e grandes consumidoras de energia embutiram em seu planejamento a estimativa de que as térmicas permanecerão ligadas até o final deste ano.
Mesmo que venham as águas de março, resta esta questão: o país terá sobras bastantes para enfrentar outro verão anormalmente seco?
O governo Dilma Rousseff (PT) recusa-se a discutir tal situação; muito menos se prontifica a apresentar alternativas de redução de danos. Não há transparência.
Em janeiro de 2000, especialistas e empresários alertavam a administração Fernando Henrique Cardoso (PSDB) sobre o risco iminente de desabastecimento. As autoridades negaram-se a admitir a dificuldade até abril do ano seguinte, quando expuseram um plano de contenção de consumo, já inútil.
Os problemas do setor elétrico vão muito além de medidas prudenciais de poupança de energia. A mera hipótese de escassez, no médio prazo, já afeta investimentos em toda a economia, fato em si mesmo grave e que demandaria ação mais decisiva para racionalizar o consumo e ampliar a oferta.
Infelizmente, o patamar da discussão agora é inferior. Exige-se do Planalto clareza acerca das possibilidades de escassez e das medidas emergenciais que talvez possam atenuar o risco de racionamento.
No entanto, há politização mesquinha em ambos os lados do debate. Este governo, que sempre afirmou com arrogância o controle absoluto sobre a capacidade de oferta de energia, teme que a mera menção à racionalização do consumo prejudique suas possibilidades nas urnas em outubro.
É um desatino. Espera-se que o vulgar cálculo eleitoreiro dê lugar à responsabilidade e que seja apresentado ao país um diagnóstico preciso e um plano apropriado para evitar outro desastre.
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