domingo, janeiro 12, 2014

Além da intervenção - CARLOS ALEXANDRE

CORREIO BRAZILIENSE - 12/01
Em 1992, ano de eleição, o país ficou chocado com a maior tragédia ocorrida no sistema carcerário nacional. O massacre de 111 presos no complexo penitenciário de Carandiru expôs de forma brutal como o poder público lida com situações extremas nas cadeias. Naquela época, pouco mais de 114 mil brasileiros estavam aglutinados nos estabelecimentos penais do país. Passado o choque, Carandiru foi implodido, o processo judicial alcançou as primeiras condenações há pouco, o ex-governador Fleury desapareceu da cena política. E as cadeias do Brasil só pioraram. A ponto de o atual ministro da Justiça dizer que preferia morrer a cumprir pena em uma das masmorras destes trópicos.
De Carandiru aos dias de hoje, a População carcerária brasileira quintuplicou. As cadeias abrigam mais de 580 mil condenados, provisórios ou sentenciados. É menos de um terço do contingente de bandidos em cárcere nos Estados Unidos. Somando-se esses dois países com China e Rússia, chegamos à maioria da população mundial de presos. Desse grupo de países, os norte-americanos detêm um sistema judicial mais eficiente e confiável. E nenhum deles enfrenta a guerra disseminada nas cidades brasileiras, frequentemente comandada de dentro das cadeias: 50 mil mortes violentas por ano. A pequena Ana Clara, 6 anos, uma das vítimas do ônibus incendiado em São Luís, se junta a essas cruzes. Juliana, mãe da criança, está internada desde sexta-feira em Brasília para se recuperar das queimaduras sofridas no inferno maranhense. Não teve tempo de explicar à filha o que aconteceu.

Do meio milhão de presos no Brasil, metade não tem ensino fundamental completo. A maior parte não contou 29 anos de idade. São jovens que não conseguiram ser protegidos por uma valorosa defesa contra a criminalidade: a educação. Enquanto Brasília discute se há motivos para uma intervenção em São Luís em meio ao calamitoso cenário nacional, o futuro mostra a cara a poucos quilômetros da Praça dos Três Poderes. Ele tem 17 anos, seis homicídios nas costas e foi preso em Planaltina na semana passada. Aguarda a vez para ingressar nas cadeias brasileiras.

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